U2 – MOTHERS OF DISAPPEARED - QUANDO A DOR DA PERDA SUPERA, EM MUITO, A DOR DO PARTO.
- Nando Oliveira
- 12 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2019
Hoje, Dia das Mães, eu poderia falar de alegrias, mas não, preferi trazer um pouco de como a música é capaz de ser forte, refletir dor, expressar tristeza, indignação, mas ao mesmo tempo trazer alento. E isso será melhor explicado nas linhas seguintes.
Em 1987 vinha ao Mundo aquele que, para muita gente, seja a maior obra da carreira do U2: o aclamado The Joshua Three. Em meio a tantos clássicos, no apagar das luzes, o disco nos convida a ouvir sua última faixa, ‘Mothers of Disappeared’, que é a mais experimental do disco e que trás uma letra impactante, por trás de uma ideia fortíssima, refletindo a violência sofrida em alguns países americanos da época, como Nicarágua, Chile, Argentina e El Salvador. Ali, Bono dava os primeiros passos em seu ativismo, quando se compadecia da dor sentida pelas mães que perderam seus filhos (as vítimas “deslocadas”) de formas brutais, severas e misteriosas, sem nenhum tipo de vestígio deixado, graças aos regimes ditatoriais daqueles países.
O próprio título da canção remete ao nome original do grupos de protestos que essas mães criaram nesses países, entre os anos 70 e 80, chamados de “Mothers of Disappeared” (Mães dos Desaparecidos), inspirando Bono a contextualizar sua obra, criando versos como “In the wind we hear their laughter” (“No vento nós ouvimos o sorriso deles”), “In the rain we see their tears” (“Na chuva nós vemos as lágrimas deles”), “In the trees our sons stand naked...Through the walls our daughter cry” (“Nas árvores nossos filhos se levantam nus...Pelas paredes nossas filhas choram”). Esse último verso é o que mais choca, pois vale salientar que essas crianças, além de raptadas, foram torturadas, estupradas, mortas e largadas como queima de arquivo.
É bacana quando uma banda se compadece da dor daqueles que mais precisam, né? O U2 sempre teve disso e há quem diga que se trata de puro merchandising. Será mesmo, gente? Bom, acho melhor perguntar para quem, de fato, se sente mais amparado emocionalmente, após as consequências positivas das ações que o U2 imprime em cima do palco e também longe dele. Um belo exemplo disso é que, no Chile, em 1998, em uma das exibições da música (que foi transmitida ao vivo, pelo continente Sul-americano), tempos depois do concerto, ondas de protesto contra o ditador Pinochet começaram a ganhar força e mudanças significativas passaram a acontecer no país, gerando muita emoção entre os membros da banda, como se viu numa entrevista onde Bono fala que “foi legal se sentir como uma pequena parte disso”.
Em 2017, na turnê de comemoração do Joshua Tree, vários concertos se encheram de emoção em torno da execução de ‘Mothers of Disappeared’, com participações especiais como Eddie Vedder e Mumford & Suns, além de mães exibidas num telão, ao fundo, segurando velas em simbologia ao eterno luto pelos seus filhos perdidos.

Abaixo, a letra da canção:
U2 - MOTHERS OF DISAPPEARED
Midnight, our sons and daughters
Were cut down and taken from us.
Hear their heartbeat
We hear their heartbeat.
In the wind we hear their laughter
In the rain we see their tears.
Hear their heartbeat, we hear their heartbeat.
Night hangs like a prisoner
Stretched over black and blue.
Hear their heartbeats
We hear their heartbeats.
In the trees our sons stand naked Through the walls our daughter cry See their tears in the rainfall.
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