PEARL JAM: A TRAGÉDIA DE ROSKYLDE
- Nando Oliveira
- 4 de set. de 2019
- 3 min de leitura
A data foi 30 de junho de 2000 e entrou para a história da música como um dos dias mais tristes, dentre todas as tragédias que envolvem grandes bandas do cenário mundial.
O local foi Roskilde, na Dinamarca, onde o Pearl Jam dava sequência em sua turnê europeia daquele ano, quando ainda faziam shows em festivais de grande porte, tais qual era o evento dinamarquês.
A quantidade de ingressos vendidos, segundo informações posteriores, excedia a capacidade do local e, também segundo informações investigativas, o som do palco estava baixo, fazendo com que os fãs tentassem chegar mais perto da banda, como era de praxe em quase todos os shows do Pearl Jam, principalmente naqueles do início de carreira.
Infelizmente, não deu outra, e quando cerca de quinze pessoas avançaram com mais violência, outras, além delas, caíram no solo repleto de lama, sendo pisoteadas até a morte, num total de 8 esmagadas e uma nona perdendo sua vida no hospital.
Testemunhas afirmam que a banda pediu incessantemente que as pessoas recuassem, antes mesmo da fatídica tragédia, mas no calor do espetáculo, estas não deram ouvidos e tal ação resultou nessa gigantesca tristeza.
O que se viu depois foi a banda desolada, numa espécie de desespero não contido, com o Eddie Vedder agachado, observando aquele terror sob seus olhos já marejados e uma correria tentando conter o que já não mais podia se evitar.
O show, obviamente, não foi até o fim e nem mesmo a turnê, pois a partir dali, os membros da banda, movidos por esse cruel divisor de águas, resolveu se ausentar de grandes festivais e passar a repensar seus novos rumos dali em diante, até mesmo chegando a cogitar o fim da banda.
Mas felizmente eles não acataram essa suposição e, repletos da grandeza que tomou conta deles ao longo dessas décadas, resolveram agir, gigantes como tais, dando assistência aos familiares em luto.
Anos depois, no lançamento do álbum Riot Act, de 2000, uma canção foi composta em homenagem a todas as vítimas, as quais os membros chamam de “amigos perdidos”, intitulada Love Boat Captain, uma das mais lindas composições da discografia.
Eu gostaria de relatar um momento incrível, que foi num show em 2010, na Alemanha, exatamente 10 anos após a tragédia, quando antes de executar a canção Come Back, Eddie Vedder se emociona e vai aos prantos, justamente por aquele momento aniversariar a tragédia e pelo fato dessa música remeter a um pedido feito por nós, quando perdemos quem amamos e queremos ter essas pessoas de volta. Antes dos primeiros acordes, o silêncio no palco e no público chega a arrepiar até a mais insensível das criaturas.
Por fim, outro momento belíssimo foi em 2019, quando Vedder, em sua carreira solo, excursionando pela Europa, também na Alemanha, igualmente em 30 de junho, relembra a tragédia contando um segredo ao público, dizendo que naquela noite em Roskilde, antes de subir ao palco, a banda recebia a notícia de que Cris Cornell seria pai, o que representava, até então, um fato inédito entre aquele grupo de amigos dos primórdios do grunge, de Seattle, já que nenhum deles havia sido agraciado, ainda, com um herdeiro.
Em seu discurso antes de cantar, Eddie cita as seguintes palavras:
"Há 19 anos atrás, algo muito especial aconteceu... Um dos nossos amigos mais íntimos, entre todas essas pessoas maravilhosas de Seattle, foi o 1º de nós em nosso grupo de amigos e familiares a ter um filho. O casal teve uma linda filha e ouvimos a notícia logo antes de subirmos ao palco na Dinamarca, em Roskilde, há 19 anos atrás. Foi uma daquelas coisas em que você estava celebrando a vida dessa pessoa, mas então, a coisa mais difícil que qualquer um de nós já passamos nesta vida aconteceu mais tarde. Eu sempre penso em todos esses pais de todas aquelas pessoas que faleceram. Conheci alguns deles e eles se tornaram familiares para mim, para a minha família e para todos da nossa banda. Desde então, passamos momentos com eles, tocamos para eles e nos vemos eventualmente. Hoje, nós conseguimos celebrar a vida e as vidas ao nosso redor. Então, vou tentar tocar essa música, pensando em uma grande garota de 19 anos chamada Lily"
Após essas palavras, ele toca e canta 'Seasons', de autoria do amigo que se foi...
Enfim, que este artigo, além de demonstrar viés musical, também sirva para que possamos, cada vez mais, valorizar aqueles que amamos e termos a consciência de que essas pessoas não estarão aqui para sempre.
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