TIM BUCKLEY & JEFF BUCKLEY: PAI E FILHO, UNIDOS PELA GENIALIDADE VOCAL.
- Nando Oliveira
- 16 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de mai. de 2019
Nem sempre herdamos tudo de nossos pais, seja no âmbito de caráter, até mesmo no âmbito físico, quiçá nos atributos de criatividade, tais quais o dom de pintar, escrever, dançar ou cantar. Não foi o caso de Tim e Jeff, este fruto do casamento de Tim com uma pianista de nome Mary Guibert.
A competência vocal de pai e filho chega a ser assustadora!
Tim foi um músico sessentista, contemporâneo de nomes gigantescos como Beatles, Dylan, Stones, entre outros. O folk era a essência de sua música, logo nos primórdios, já conquistando a crítica pela sua capacidade impressionante de atingir agudos e vibratos, como se conseguisse suprir um coral em uma única voz.
O trabalho que o impulsionou foi o do disco ‘Goodbye and Hello’, onde ele, de fato, atingiu o patamar dos gênios. Destaco canções como ‘No Man Can Find the War’, ‘Pleasant Street’, o experimentalismo surreal de ‘Hallucinations’ e aquela que, para mim, é a interpretação mais hipnotizante de toda sua obra, ‘Phantasmagoria in Two’: Eu classifico essa faixa como uma das mais belas e tristes canções já produzidas na música contemporânea.
Tim nunca se perdeu, sempre buscou adicionar novos elementos em suas músicas, nunca perdendo a psicodelia de vista, sempre flertando com o Jazz, tendo o rock presente e o experimentalismo dando tons sombrios em suas composições. Nem mesmo o fim de carreira, por onde passou por diversas críticas, quando o soul e o funk ditaram os novos rumos de suas criações, foram capazes de, sequer, manchar a sua grandeza como músico e compositor.
Seu filho, Jeff Buckey, coincidentemente veio ao Mundo no ano de lançamento da primeira obra do pai, em 1966.
Jeff sempre foi um músico promissor, por vezes mais instrumentalmente do que cantando, apesar de sua voz ser, até hoje, considerada como uma das mais ímpares dos últimos 30 anos.
Desde criança, já sofria influência de sua mãe, musicista, e também de seu padrasto, apaixonado por rock and roll clássico, sempre presenteando o enteado com discos da época. Foi daí que Jeff unificou essas duas bases e se interessou por bandas como The Who, Led Zeppelin, Queen, entre outras. Ele nunca quis ser comparado ao pai e sempre deixou claro que gostaria de ser um músico diferenciado, não se rendendo ao lado comercial, imposto por gravadoras, não se importando se suas músicas se transformariam em ‘hits’, por mais que isso pudesse vir a ser inevitável.
Quando Jeff saiu de casa e assumiu o sobrenome Buckley, do pai, foi como se ele se libertasse, fugisse de mentiras e agradecesse ao Tim pelos 50% de concepção de sua vida.
O disco ‘Grace’ é o único álbum oficial de estúdio em sua carreira, o qual traz obras maravilhosas, como a faixa título ‘Grace’, ‘Last Goodbye’ e, claro, a versão arrepiante de ‘Hallelujah’ - me perdoe o criador, Leonard Cohen, mas essa música imortalizou-se na voz e nos dedilhados da guitarra de Jeff.
É possível você encontrar outros discos póstumos, também muito bons, mas não tão maravilhosos quanto o primeiro.
É duro quando a gente sabe o quanto esses dois poderiam ter contribuído mais para a música, talvez chegando até a compor juntos, gravar juntos, se apresentarem juntos, enfim...
Ambos conseguiram passar do maldito “número 27”, pois Tim morreu aos 28 anos, vítima de overdose e Jeff morreu aos 30 anos, vítima de afogamento. Na época da morte deste, teorias de conspiração surgiram, numa suposta situação na qual ele pudesse ter sido assassinado ou, talvez, estivesse sob influência de entorpecentes, mas ficou comprovado que ele estava “limpo” e foi morto pela violência das águas. Vale salientar que, minutos antes de sua partida, Jeff cantarolava trechos de ‘Whole Lotta Love’, do Led, antes do Rio Wolf, no Memphis, determinar o fim da vida de um dos mais talentosos seres dos anos 90.
As obras dos dois podem ser ouvidas em conjunto nas suas playlists pessoais, leitores, sendo permitido todo e qualquer comparativo entre as capacidades de cantar e encantar, de ambos. Aqui não tem aquela história de filho que supera o pai, mas sim de filho que completa o seu progenitor, mas é normal demais se você conseguir encontrar um dos lados onde melhor se ampare.
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