THE STONE ROSES – A GÊNESE DO BRITPOP
- Dostoievsky Andrade
- 15 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de mai. de 2019
Quando se fala em britpop, o que vem na cabeça e conecta rapidamente no inconsciente coletivo são as contribuições de bandas como Blur, Oasis Suede e Pulp no auge dos anos 90 e todo sua arrebatadora e eruptiva demarcação do rock que fundiu todos os elementos, que incluía todas as fases do rock britânico em um único estrato: o pop dos anos 60 o glam e punk rock dos anos 70, o pós-punk e o indie que estava nascendo.
O movimento do cool brittânia, resgatando a cultura musical e, principalmente, os grandes dramas internos do contexto britânico de desconstrução do status quo de retomada do equilíbrio pós-teatcherismo, se tornou um movimento de vanguarda a despeito de que muitos o consideram mais uma ferramenta de marketing do que um estilo musical. Mesmo assim, o impacto do britpop consolidou a considerada segunda onda musical britânica que ampliou a cena do rock inglês a níveis estratosféricos, em tempos de internet.
Mas a fase embrionária deste movimento independente, teve na banda The Stones Roses, no final da década de 80, o introito mais pulsante e que revestiu o assoalho do rock inglês para a passagem das grandes bandas do movimento britpop e indie. Contemporâneos do The Smiths, a banda de Manchester foi atraída pela necessidade de capilarizar o rock em uma nova configuração, em uma época de efervescência das raves e da música eletrônica pop. Nascia então o indie rock, que convergiu no centro das multi-facetárias influências do britpop um novo estilo de expressão musical e artística.
Em 1989, em um contrato ousado com a Silverstone Record, que apostou na originalidade dos caras, The Stones lança seu primeiro disco homônimo. A banda já estava transitando no saguão dos jornais especialistas em rock, depois que se apresentou abrindo o show solo de Pete Townshend, guitarrista do The Who. Eles ficaram conhecidos no maisntream do circuito alternativo britânico.

Mesmo com a crítica rendida à criatividade do grupo e eles recebendo todos os prêmios de banda revelação, banda do ano, melhor single e melhor disco, The Stone Roses é daquelas bandas de rock que tiveram sua existência tratada com certa frieza pelo público, porém adorados na cena do panorama underground. Foi preciso a banda conferir sua primeira parada em um intervalo de quase 20 anos para que, nos anos 90, depois que Oasis e Blur afirmaram que o britpop não existira sem The Stones Roses, que o reconhecimento inflamou sua irradiação de influência.
Neste contexto, o disco de estreia da banda torna o sítio de ingresso a sua sonoridade. Formada por Ian Brown (vocal), John Squire (guitarra), Gary Mounfield “Mani” (baixo) e Alan Wren “Reni” (bateria), suas canções são um convite ao deleite de forma suave, de tênue textura sonora e ao mesmo tempo ousada, pois imbricam guitarra com harmonias amarradas, cheias de acordes afinadas e melódicos. Esta brandura musical amoldou-se em perfeição com a poesia honesta, simples e transparente de suas letras.
Em I Wanna Be Adored, com elementos que cruzam com o pop, a sutileza de acordes doces e aveludados, na verdade expressa uma lamentosa e soturna mensagem de melancolia e desventura. She Bangs the Drums parece ter sido concebida no auge do final dos anos 90 e inicio dos anos 2000, pela tessitura pop rock e seu apelo indie, impressos pela guitarra de Squire. Waterfall é uma ode poética bela e graciosa que levita com seus backs quase oníricos.
Don’t Stop envolve um arranjo bem inusitado, brincando com riffs que remetem a elementos da música indiana e fusão de guitarra e cítara, em uma pegada quase mântrica e forte influência Harrissoniana.
Em Bye Bye Badman e Elizabeth My Dear recorre-se ao folk com acústica em fusão pop. Sugar Spun Sister e Made of Stones são tão solares e sublimes que é impossível ouvir de primeira e não ser arrebatado. As letras são de uma simplicidade tão despretensiosa que se amplificam pelo seu minimalismo.
Já Shoot You Down ,com sua estética alternativa, misturando elementos do jazz e blues, se desenha como uma canção que demarca um farol para influências que viriam a seguir. This Is the One tem um apego tão suave de timbre pop e tão viçosamente vibrante, que convida o ouvinte a dançar. O disco encerra com I am The Resurrection, uma canção que trilha por mudanças melódicas para demarcar três atos de puro rock.
The Stones Roses é tão atual e ao mesmo tempo soa tão déjà-vu para quem não conhece, por se achar que é mais uma banda do hall da galeria do indie rock. Mas é tão surpreendente saber que toda essa obra valiosa é precursora de uma trilha de musicas e bandas que beberam de uma fonte de influência, cuja ascendência teve nesta banda britânica seu mais primoroso fulcro de irradiação, quase revolucionária para materializar o ressonante movimento cultural do britpop.
Comments