THE SMITHS -THE QUEEN IS DEAD A RAINHA NÃO MORREU
- Dostoievsky Andrade
- 1 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2019
1986, o ano de The Queen is Dead do The Smiths, é um portal que se abre para conflagrar um modelo que se moldou ao contexto do pós punk em seu âmago de auto expressão, em que intimismo visceral sobre dilemas, hesitação, insegurança, ceticismo, desconfiança, baixa estima e inquietação sobre o futuro cinge a textura que esse disco pode contribuir, para influenciar a indie music e sua cruzada em estabelecer os paralelos que se desenha o rock na transição do período pós-moderno.
A estética impressa pelo formato delineado de The Smiths para dividir as águas do punk e do modelo clássico, estampado na alegoria lendária da rebeldia de protesto com as causas sociais imbrincadas na erupção de lava vulcânica dos hormônios da juventude, foi modulada pela banda inglesa para se contrapor a toda esta perspectiva musical e de auto afirmação existencial.
Nesta obra prima, The Smiths ajuda a fundar o rock que se torna o paradigma de um novo protótipo de arte que se funde na música, em que poesia clássica, literatura e teatro se sobrepõem às criticas sobre politica, sociedade e filosofia, em uma configuração perfilada à cultura pop.
As letras de Morrissey encastram-se em simetria absoluta às melodias criadas por Johnny Marr, com seus riffs inusitados, em que reproduzia mods que transitavam pelo blues, soul, glam e punk.
A apoteose de The Queen is Dead é justamente divagar sobre temas que consolidam suas pretensões artísticas, para expressar seu posicionamento político-social ácido, como a faixa de abertura: The Queen is Dead.
A ironia marca a canção Frankly M sobre a relação com o dono da gravadora dos Smiths, na época.
Em I Know is over, Morrissey debruça sua dor, solidão, melancolia e abatimento em um blues desolado, em que sua amargura, pesar e infortúnio são pintados com tintas cinzas de desconsolo, onde o alento se busca pelo amor de sua mãe.
Em Never Had No One Ever, Morrisey segue na caminhada de seu espectro esquivo e retraído pela juventude hesitante do impasse de se descobrir diferente e deslocado.
Em Cemetry Gates, o compositor prospera a literatura e ironiza no deboche, em que a felicidade muitas vezes é um pseudo estado de plenitude.

Em seguida, no lado B, o disco mostra uma convergência de canções icônicas que se somam em hinos que marcaram a história do rock.
Bigmouth Strikes Again, "The Boy with the Thorn in His Side", There is a Light That Never Goes, Some Girls Are Bigger than Others", todas presentes na galeria das musicas épicas tatuadas no hall de entrada dos clássicos. Perpassa pela personificação da heroína Joana Dark, pela crítica sarcástica à igreja católica, uma ode ao amor hermético, desmedido e implacável.
The Queen is Dead é tão essencial e historicamente tão díspar para aquele período de pop raso, que logo se tornou cult. Era muita referencia alocada em uma obra que era de difícil depreensão diante de seu ineditismo e do miolo de sua dimensão tópica, com letras que remetiam a sentimentos de opulência dramática e que se refletiam na arte de expressar a medula das grades descobertas de um mundo em trânsito.
Tudo isso sem sintetizador, com melodias afinadas para emocionar, um precursor do indie, que nunca deixou de ser pop para sedimentar as influências vitais que moldaram os Smiths desde o rock clássico, punk, folk e o soul.
Por falar em indie, a influencia de The Queen is Dead, assim como toda a discografia dos Smiths, torna-se o marco zero de um composto bloco de bandas que, nos anos 90/2000, materializam um gênero que assume o underground e costura os retalhos de outros estilos como o folk, o eletrônico, a psicodelia e o pop rock.
Smiths, portanto, pavimenta a estrada de um gênero musical reconstruindo os escombros do rock, em um período em que a globalização e a sociedade de massa de consumo eclodem hegemonicamente como um raio de influência na cultura pop. Um sopro de brisa leve que se levanta como um vapor de plasticidade e beleza, que tem no legado dos Smiths, e especialmente nesta obra prima, com mais de 30 anos de encanto, o seu apogeu na tribuna das peças mais valiosas da musica ocidental.
Um disco orgástico!