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"THE END" DO THE DOORS – MÚSICA, POESIA E REFLEXÃO EM TEMPOS DE QUARENTENA

Neste contexto de pandemia, quarentena mundial, mortes, hecatombe econômica instituídas em face dos efeitos nefastos do COVID19 quem se depara com o som arrebatador e ao mesmo delirante de “The End” do The Doors pode neste estado reflexivo que esta musica o transporta, estabelecer um liame filosófico de como a arte e cotidiano podem dialogar em várias perspectivas que permite se reinventar a cada escuta.

Essa canção assume este poder de elucubração na medida que se reverbera em imagens que denotam um certo confronto psicodélico com uma realidade que desafia o pacto com o extraordinário e com o imprevisível. Apesar de vários temas estarem contidos em suas nuances na poesia vociferada de Jim Morrison, a seiva de sua essência é angustiante, atormentada e ao mesmo tempo subversiva em aceitar a conjuntura.


Em seu processo de imersão poética, Jim Morrison decidiu utilizar a experimentação como um dos elementos de sua construção artística e inseriu na letra de “The End” seus dramas e dilemas de relacionamento com amantes, amigos e os pais, e configurou a estrutura de um modelo filosófico existencial com a mitologia e as teorias de Freud. Para jogar todos estes pretensiosos elementos, a banda apurou a sonoridade em uma espécie de catarse harmônica que consegue dialogar perfeitamente no rock que o The Doors fazia.

Jim era uma alma sensível e ao mesmo tempo atormentada pelo martírio de expressar sua arte muito além de um painel subversivo que alimentava o movimento da contra cultura dos anos 60. Jim experimentava o calvário de não conseguir viver a liberdade que idealizava em um contexto quase sobrenatural de seus delírios transcendentais movido pelas drogas e de expressar sua arte traduzida pela dor e angústia a ponto de conferir à morte uma ligação terna quando declama “My only friend the end...”

A simbologia mítica desta obra musical ganha magnitude quando “The End” se transforma em quase um personagem do filme “Apocalipse Now”, estabelecendo naquele contexto de guerra, uma ruptura do real conflagrada com a brutalidade da guerra e o espirito alucinante com que o silencio e a invisibilidade da morte precisava ser enfrentada além do inimigo. A poesia cantada de Morisson sob a psicodelia sonora amplificada pelo teclado de Ray Manzarek ditava a asfixia do cenário dantesco do filme.



The End é uma canção pesada que não se alinha a um modelo de significação que coadune com valores representativos do triunfo, da glória, do regozijo, da euforia e do deleite(valores tão hiperbólicos nos anos 60). É uma canção, assim como a obra de The Doors em sua essência, que nos convida a refletir sobre o lado mais soturno da alma, sofrimento, da raiva e do rancor e de como tudo isso sendo tão humano, precisaria passar pelo conceito de arte perpassando pela mitologia, simbologia indígena, Filosofia Nietzscheniana e psicologia freudiana. A poesia de Jim afaga com a tragédia afim de que a dor inevitável possa conduzir o homem à redenção


E aí que a atmosfera desta canção poderá nos fazer refletir sobre a forçada ruptura de nosso ideal existencial que se transformará tão fortuitamente com a tragédia do COVID19 tanto neste momento de quarentena como na retomada a um mundo que não será mais o mesmo. Portanto este clássico do rock estruturado em formato de poesia é a trilha perfeita para encenar a ruptura para uma nova era, um novo tempo, uma nova perspectiva cultural, comportamental, política e social. O fim para se iniciar, quem sabe, novos paradigmas, reinvenções, desconstruções para construir um mundo tão idealizado que precisou viver a dor e a tragédia para resplandecer no sol da esperança. “É o fim meu belo e único amigo”.

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