THE DOORS: O ENCANTO DE UM ÉPICO – A ABERTURA DAS PORTAS
- Dostoievsky Andrade
- 19 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
No começo de 1967, a banda americana The Doors iniciou suas primeiras experiências de palco no pub London Frog em Los Angeles. Animado com a experiência musical Jim Morrison adulterou pressão arterial, glicemia, batimentos cardíacos e respiração usando todo tipo de ácido no dia do exame médico para o recrutamento no exército. Revelou para os médicos que era cardiopata e também homossexual e que fazia terapia para se libertar dos desejos pecaminosos. Claro que ele foi recusado.
Para comemorar e libertação, desceu a lenha na performance no London Frog na última apresentação destruindo palco, som e objetos do lugar. Foram expulsos. Mas a sorte estava no encalço da banda, e uma bela garota chamada Ronnie Haran, que conhecia um amigo de classe da escola de cinema que Jim frequentava na UCLA se encantou pela banda.
Ronnie também era promoter do badalado pub Whiskey a Go Go que procurava por novas atrações e ofereceu uma segunda feira para os caras tocarem lá. O empresário do lugar Elmer Valentine não gostou nada da ideia por uma experiência passada com o The Doors no WGG, e por achar a banda medíocre, amadora, com um vocalista que usava de sua postura descolada para disfarçar sua falta de talento. Mesmo assim, acatou o pedido de Ronnie em que confiava bastante.
Abrindo sempre para as grandes bandas do momento, The Doors tinha o ritmo certo para deixar o público instigado para as principais atrações e terminou ficando de maio daquele ano até agosto, mas sempre aprontando. Tanto Elmer como seu sócio Phil ameaçavam tirá-los do palco se não abaixassem o volume e se Jim não parasse de falar palavrão. Como o palco era motivador para Morrison tomar uma “grande” e se entorpecer com droga, a situação piorava com Jim gritando no final do show: “Vão todos se fuder e foda-se mais ainda Elmer, Phil e o Whiskey a Go Go”.
Ronnie amava as músicas do The Doors e o “Sex Style” de Jim Morrison, e toda vez que os Doors eram escorraçados do pub, ela telefonava para todas as suas amigas que por sua vez ligavam para o Whiskey a Go Go, perguntando quando o The Doors tocariam de novo. Elmer ouvia das garotas “queremos ver aquele tarado filho de puta com aquelas calças arroxadas se esfregando no pedestal”.
Elmer novamente se rendeu e convidou The Doors para retornarem a casa, conversou seriamente com Ray Manzerek e pediu para que assumissem uma postura mais profissional sob a condição de assumirem a atração principal do pub. Elmer completou: “as pessoas querem ver aquele louco cantando com ar de intelectual e a poesia musical de vocês, mas precisam fazer direito”.
Ray conversa com a banda e todos decidem fazer um show do The Doors com mesma textura descontraída, mas com um elemento surpresa: “VAMOS TOCAR WHEN THE MUSIC IS OVER”, seremos expulsos do mesmo jeito!

A música com um riff de órgão saltitante e Jim implorando quase em voz baixa “Yay... c’moon” Então John Densmore começava a girar o braços exageradamente acrescentando uma alta batida metronômica, e de repente, surpreendendo a todos, Jim pulava direto no ar, com seu microfone e gritava Yeaaaaaaahhhhhh! O órgão levava a linha melódica , Robby Krueger pontuava e Jim cantarolava um lamento fatalista:
“Quando a musica terminar
Quando a música terminar
Quando a música terminar
Apague as luzes
Apague as luzes
Apague as luzes”
E então, mais violentamente
“Porque a música é a sua amiga especial”
E ainda mais agressivamente, quase em um grito:
“dance em fogo, como ela pede”
E então, um consolo(e um aviso):
“A música é a sua única amiga”
A bateria rufava
“Até o fim
Até o fim
Até o fim”
Aqui Robby fazia um guitarra de resposta/enlouquecedora/psicodélica, John batia nos pratos, Ray sustentava notas penetrantes no órgão, e, no meio desta cacofonia, Jim se contorcia no chão, segurando o microfone de encontro ao peito, batendo as pernas, assumindo alternadamente uma posição fetal, e em seguida, ficando perfeitamente rígido. A música ficava mais lenta, os músicos se recompunham. Jim ficava de pé novamente
“Cancele minha inscrição para a ressurreição
Envie minhas credenciais para a casa de detenção
Eu tenho alguns amigos lá dentro
O rosto no espelho não vai parar
A garota na janela não vau cair
Uma festa de amigos
Com vida, ela gritou
Esperando por mim
Lá fora”
A última palavra era outro grito. A música se tornava hipnótica
“Antes de mergulhar no grande sono
eu quero ouvir
eu quero ouvir
o grito da borboleta
volte querida
volte para os meus braços”
Certa impaciência aparecia na voz de Jim, insinuando violência
“Estamos ficando cansados de andar por ai
Esperando por ai com nossas cabeças no chão”
A voz abandonava a violência, tornava-se tão hipnótica quando a música
“Eu ouço um som muito delicado
muito perto, embora muito longe
muito suave, sim, muito claro
Venha hoje, venha hoje”
Um clima de tristeza era criado, se transformando em raiva
“O que eles fizeram à terra?
O que eles fizeram à nossa irmã gentil?
A devastaram e saquearam e roubaram e morderam
Prenderam-na com facas nos flancos da aurora
E a amarraram com cercas e a arrastaram”
Havia apenas o rítmico batimento cardíaco do órgão de Ray: duas notas, bum-bump, com a intervenção apocalíptica da bateria: Bum-bump Bum-bump
“Eu ouço um som muito delicado
Com seu ouvido... no chão”
O rosto de Jim estava próximo ao microfone, preso quase amorosamente em sua mão esquerda, enquanto a mão direita cobria seu ouvido. Sua perna direita estava à frente, com o joelho flexionado, seu pé segurando o pedestal do microfone. A perna esquerda estava rígida, equilibrada.
“Queremos o mundo e o queremos...
Queremos o mundo e o queremos...”
E um rufar de tambores. E:
“Agora
Agora?”
O rufar de tambores terminava. Jim pulava. Ele gritava:
“Agoraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!”
O órgão voltava, em completo frenesi
“Noite persa
Veja a luz
Salve-nos, Jesus, salve-nos”
Então, quando a música acabar
Apague as luzes
Música é a sua amiga especial
Dance em fogo, como ele pede
A música é a sua única amiga
Até o fim
Até o fim
Até
O FIM”
O publico atônico estava petrificado. Até mesmo as dançarinas que já tinham visto de tudo naquele lugar estavam sentadas nos drinks gigantes onde dançavam, simplesmente hipnotizadas
E assim abrem-se as portas do sucesso e da percepção....
Fonte: Ninguém sai vivo daqui – biografia de Jim Morrison de Jerry Hopkins e Danny Sugerman
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