THE BENDS DO RADIOHEAD: A GÊNESE DE UMA TRAJETÓRIA EXPERIMENTAL QUE DEFINE O SOM DA BANDA.
- Dostoievsky Andrade
- 14 de set. de 2019
- 3 min de leitura
Considerado um dos melhores discos dos anos 90 “The Bends” foi lançado em 1995 e despontou o Radiohead para o olimpo das bandas mais importantes daquele período. Depois do sucesso estrondoso com o hit “Creep” do disco de estreia “Pablo Honey”, que tinha um apelo suficiente para excitar os recursos musicais que acenavam muito para o pop, havia muita expectativa para o novo disco dos caras. O arrojo quase “kamicasiano” da banda para produzir e lançar “The Bends” foi de uma bravura desmedida e revelou o quanto Radiohead perseguia um registro musical que circunscrevesse as balizas do indie rock em uma perspectiva reflexiva, circunspecta, melancólica e extremamente belo.

Musicalmente o estilo pós grunge do disco de estreia é interrompido com uma atmosfera melódica, madura e sóbria no sentido de explorar uma inquietante ânsia de destilar a beleza soturna da tristeza com uma textura sonora repleta de teclados, guitarras distorcidas e vocais de Thom York que beiram a angústia, furor e desesperança, e que ganha tintas radiantes com as letras que abordam solidão, indiferença e enfrentamento de tribulações e dilemas políticos.
Um disco triste que reforça a necessidade de acomodar uma experiência tocante de vida com uma trilha sonora que nos convide a refletir sobre nossos próprios dramas. Nesta perspectiva, este tipo de som tem um apelo terapêutico enorme, e torna a música em sua essência, o motor para ampliar em panoramas que vão além da diversão, baladas, protesto ou bandeira social no qual o rock fincou suas pilastras. O rock pode sim, ser triste e reflexivo e tem muita beleza e sublimidade na forma como conduz sua proposta melancólica para acomodar-se a tantas desventuras e tragédias pela qual nossa vida é testada em tantos momentos.

O disco é de uma produção impar, gravado no mítico Abbey Road Studio, produzido por John Leckie que trabalhou com Pink Floyd e Stones Roses. Leckie foi tocado pela ambição patente da banda de se reinventar mesmo com a pressão pesada para se criar um álbum como o de estreia e que estivesse em sintonia com o britpop do Oasis, Blur, Pulp e Keane.
Neste contexto de experimentação, Radiohead optou por conduzir os elementos sonoros em uma estrutura coesa e uniforme que mesmos nas canções de maior peso o estrato melódico e de atmosfera tocante e doce estavam impressas nas canções.
Os ensaios musicais iniciados com “The Bends” ganha maior robustez nos discos posteriores mais experimentais do Radiohead como “Kid A” e aqui se consegue delimitar em definitivo o som especial e singular da banda. A percepção em uma análise mais crítica deste disco é de que a banda passou por um processo criativo de imersão que denota um latente desejo de distanciamento da cena roqueira britânica e de sua própria criação musical inaugural. Mesmo assim, hits desabrocharam do disco que se tornou um cult absoluto na época como “High and Dry” e a estupenda canção “Fake Plastic Trees” considerada pela crítica como uma das baladas mais lindas de todos os tempos.
Em “The Bends” a experimentações também vai se destinar a mudar muitos maneirismos vocais de muitos cantores do britrock, introduzidos na forma como Thom Yorke explorou os falsetes angustiantes nos momentos clímax de tormento das músicas elevadas ao som do teclados e distorções de guitarras apontadas para as transições mais emocionantes das canções dos disco.
The Bends está em quase todas as listas dos melhores discos de todos os tempos pelo levantamento da crítica especializada, colocando o Radiohead no topo das bandas mais influentes e importantes do cenário musical e principalmente por definir uma identidade musical que estabelece um reconhecimento do estilo Radiohead de fazer canções. Uma banda que consolida um distintivo próprio de experimentações acústicas e rítmicas tão criativas e ao mesmo tempo tão assertivas que nos convida a um deleite prazeroso que se estende em toda sua fenomenal discografia.
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