TEMPLE OF THE DOG: UM DISCO SEM PRETENSÕES, QUE CHEGOU AO NÍVEL MÁXIMO DE EXCELÊNCIA.
- Nando Oliveira
- 2 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2019
O ano era 1990, o rock estava em processos de transição, a época de palidez facial e cores extravagantes estava se desfazendo e, junto com essa gama de características de bandas da época, um nome estava deixando o palco da vida: Andrew Wood (Andy), o qual se inseria perfeitamente no estereótipo descrito. Andrew era vocalista de uma extinta banda, chamada Mother Love Bone, mas não resistiu às complicações causadas pelas drogas e se foi, jovem, mas deixando um legado de boas canções e ideias. Como homenagem a Wood, surgiu um dos mais espetaculares álbuns de rock and roll de todos os tempos, o homônimo Temple of the Dog, idealizado por um dos melhores amigos de Andrew, Cris Cornell. Este projeto relâmpago e paralelo (afinal, Cornell estava na ativa com o Soundgarden) não podia contar com outros membros que não fossem outros amigos do Wood. Juntamente com Cris, vieram o baixista Jeff Ament e o guitarrista Stone Gossard, ambos ex-membros do Mother Love Bone, se juntando ao grupo o guitarrista Mike McCready, que chegara exclusivamente para este projeto, Matt Cameron (do Soundgarden) na bateria e o “apadrinhado” de Cris Cornell, ninguém menos do que Eddie Vedder.
Temple of the Dog é um disco redondo, maravilhoso do início ao fim.
De cara, ele já abre com ‘Say Hello to Heaven’, escrita por Cornell, para Andy, como o próprio nome já sugere. Logo de início já dá para se perceber a genialidade de McCready solando. É uma canção que mescla harmonia com explosões vocais marcantes. Não seria nenhum absurdo elegê-la a melhor canção do álbum.
Na sequência, vem uma das maiores obras primas de 1990, ‘Reach Down’. Mais pesada e extremamente longa (mais de 11 minutos) para os parâmetros das outras faixas. Se você já tinha se encantado com McCready no solo da faixa anterior, aqui ele te leva a orgasmos múltiplos.
Se Reach Down integrou a lista das obras primas do ano de 1990, ‘Hunger Strike’, a faixa seguinte, encabeça o topo dessa lista. E não só isso, ela figura tranquilamente entre as melhores canções da década. Sua letra é política. Aqui o Cornell abre espaço para o tímido Eddie Vedder ter sua efetiva participação no disco. Ambos fazem um dueto que arrepia até o mais frio dos seres.
'Pushin’ Forward Back' resgata a pegada Soundgarden, com a fúria de Cornell nos vocais e, talvez, a melhor performance de Ament, no contrabaixo.
Na sequência, 'Call me a Dog', a mais linda do disco e, para mim, a melhor interpretação de Cornell na sua carreira, até então. É impressionante como alguém consegue atingir com excelência todos os patamares, seja com suavidade, seja com gritos. O duelo de sua voz com o solo de McCready não está dentro de minha capacidade de avaliação.
'Times of Trouble' reflete bem a relação íntima entre Cornell e Andy e tem a contribuição perfeita do piano de Rick Parashar (figura marcante em trabalhos das bandas de Seattle dos anos 90). Mais outra linda e triste canção.
'Wooden Jesus' quebra um pouco a sequência impactante melódica das faixas anteriores, mas traz os questionamentos de Cornell, a Deus, sobre a morte de seu amigo, o que é bastante natural em situações assim.
'Your Savior' vem na sequência com a melhor participação de Matt Cameron no disco e, para variar, com McCready destruindo. Uma canção mais interessante do que a anterior, mas na verdade, ambas, mostram bastante como o grupo estava entrosado nestes dias de gravação.
O disco fecha com 'Four Walled World', trazendo a agressividade vocal de Cornell em duetos nervosos com a guitarra de McCready.
E, depois de tanta intensidade, encerra o álbum com a suavidade de 'All Night Thing'.

Sou muito suspeito em falar da importância desse disco, por ele ser o trabalho embrionário do movimento grunge de Seattle, o qual traz aquela que viria ser a maior banda de rock de todos os tempos, pra mim, o Pearl Jam.
Mas, avaliando “de fora”, o Temple of the Dog se eterniza como um disco feito sem pressão de gravadora, sem pretensão alguma de obtenção de sucesso, apenas impulsionado pela dor da perda de um grande amigo e pelas visões de um Mundo que poderia ser diferente.
É impossível ouvi-lo, hoje, e não adaptar esse engajo de sentimentos à perda do Cornell, que infelizmente nos deixou em 2017.
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