SOUNDGARDEN LIVE: UM RESGATE SONORO EXPLOSIVO E NOSTÁLGICO
- Dostoievsky Andrade
- 2 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
No inicio dos anos 90 o estilo grunge ditou o formato do rock com características muito peculiares. Unindo elementos que incluía o hardrock, o heavy metal e a crueza do punk, o grunge se tornava mais complexo porque neste caldeirão acrescentava-se outros elementos destoantes destes modelos clássicos, envolvendo um certo interesse lacônico, com andamentos mais melódicos e um estrato instrumental mais sensível e aguçado. Os temas não eram aleatórios ou propositadamente revolucionários, eram provocativos, reflexivos sem muito apego ao drama, mas com uma natureza muito contemporânea e conectada com as perspectivas de uma geração em um período de transição.
Temas como isolamento social, abusos, dúvidas sobre o futuro, alienação social, angustias sobre os efeitos do pós-modernismo e o desencanto com o “America Way Of Life”, eram abordados nas letras. Tudo isso contextualizado em um modus estético engendrada para desafiar o status o quo e assim desconstruir os preceitos convencionais.
A banda Soundgarden bebeu até a ultima gota deste padrão se tornando um dos ícones representantes do movimento grunge, não obstante ter conduzido seu processo criativo sob os alicerces do heavy metal com uma densidade mais pesada de seu som. Por ser veterana, Soundgarden tornou-se uma banda referencia para as suas parceiras contemporâneas do movimento, e abriu portas para que o estilo se popularizasse.

Com mais 35 milhões de cópias de sua discografia vendidas no mundo, a importância da banda Soundgarden se revela paradigmática pela sua sonoridade gênese e por seu manancial influenciador do grunge reconhecido por toda a coletividade artística. O seu reconhecimento também se amplia para o público com os arrebatadores sucessos do disco Badmotorfinger e também os álbuns Superunknown e Down on the Upside todos premiadíssimos e posicionados na lista dos melhores discos do período.
O lançamento nesta semana do Disco “Soundgarden: Live From The Artists Den”, um show incrível realizado em 2013 na cidade de Los Angeles, resgata a força titânica desta banda que completa 35 anos, e que neste concerto revisa uma carreira sensacional repleta de hits, B-sides e até raridades que na época serviram para divulgar o disco King Animal de 2012.

Está tudo ali, clássicos como: Black Hole Sun, Outshined, Jesus Christ Pose, Fell on Black Days. A faixa Blind Dogs foi tocada pela primeira vez neste show e algumas faixas do disco Telephantasm de 2010 foram incluídas no set. O fã da banda se deleita com as duas horas em meia de show com o estrato do legado musical incrível do grupo. As pesadas dos primeiros discos estão lá como Hunted Down do disco Screaming Life e quase todas as músicas do King Animal como By Crooked Steps e Been Away Too Long foram contempladas neste show emblemático para a carreira dos caras.
Nesta viagem pelo catálogo musical substancioso do grupo ao vivo, inclui canções surpreendentes como Flower e Incessant Mace do disco Ultramega Ok e algumas faixas do excelente disco Lounder Than Love, o que demonstra a força pungente do disco e seu resultado em apresentar o cerne sonoro da banda com toda seu peso, volume e aspereza.
Outro ponto de interesse neste disco é justamente sentir o âmago quase nostálgico do clima subversivo do grunge, e de como esta escuta nos conduz a um espiral de recordações que perpassa não apenas pela memória de estar com uma camiseta de uma das bandas de Seattle sob uma camisa surrada xadrez de flanela, mas acima de tudo, por sentir visceralmente a emoção e honestidade com que a música era cantada sob uma fúria instrumental. Impossível não se emocionar se transportando para a platéia desse show.
É espantoso, como além da potencia sonora a voz de Chris Cornell se mantém intocada depois de duas horas e meia de show e com ele assumindo tons altíssimos, agressivos e com extensões de quatro oitavas a vontade para tornar o som uma explosão enérgica. Outro destaque do disco é a impressionante verossimilhança do som original ao vivo quando sabemos que muitos dos discos oriundos de concertos são retocados e regravados com efeitos.
Para a esposa de Chris Cornell, Vicky: “esse show foi muito especial e eu sei o quanto o Chris se divertiu naquela noite. A ideia de dar aos fãs a oportunidade de experimentar isso em sua totalidade é algo que tenho orgulho de compartilhar com eles.”
Curtir este disco é resgatar muito do que o grunge e o hard rock nos move para estabelecer a conexão vital com o rock em sua essência e fundamento inerente ao poder do rock de se manter vivo. É também a oportunidade de reconhecer como o vazio que Chris Cornell, que nos deixou em 2017, é uma lástima, e de como seu legado artístico é uma fonte inesgotável de inspiração do que é ser um rock star cheio de talento.
Comments