SLIPKNOT E O NOVO ÁLBUM "WE ARE NOT YOUR KIND": PESO E AMADURECIMENTO
- Dostoievsky Andrade
- 23 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
O slipknot como um exemplar legítimo do nú metal e do new metal passou de uma fase eufórica para um amadurecimento muito patente de sua sonoridade, estabelecendo uma relação muito sagaz de suas bases de influencia irradiada pelo heavy metal clássico, apostando cada vez mais em novos elementos que combinam a mistura de sintetizadores, samplers, riffs pesados e percussão, com o peso usual e melodias típicas do heavy metal.
A característica especial do novo disco We Are Not Your Kind é justamente dispor desta sonoridade em um nível especialmente arguto no que se refere a uma estrutura sonora que envolve todos estes elementos em uma conformação agressiva, crua e gutural em um arranjo premeditado e intencional, afim de estabelecer um flerte até com o pop sem nunca perder sua identidade. Algo como recompor e reformular em uma modelo de auto-referencia, seus próprios métodos.

O contexto clássico da sonoridade de base do Slipknot está presente em todo álbum. Não obstante os trechos melódicos com coro, sampler e refrões que “pegam” os ataques de fúria sonora com riffs acelerados, vocal rasgado de Cory Taylor e a bateria alucinada, conferem personalidade ao som e canalizam em tom colérico alguns temas como a melancolia, as perdas e a hipocrisia.
O peso sonoro também resgata a tônica rústica e crua dos primeiros discos da banda sem deixar de ser experimental em muitos momentos, o que torna esse disco bastante virtuoso. E ai as inclusões dos samplers e da percussão ganha um calibre que torna as canções bem amarradas ao estilo de Slipknot, que amplia seu apelo artístico muito além das vestimenta e máscaras bizarras.
A honestidade com que Slipknot se lança nessa altura da carreira com sua própria jornada musical é de uma sinceridade impar e os coloca em um altar elevado no pódio do metal. Mesmo passando por fases que flutuações do nu metal e do groove metal seu som nunca dobrou a curva e se mantém muito consolidado na densidade. E neste ponto a performance vocal de Corey Taylor é solar em articular a fúria e a melodia em uma mesma estrutura de música e é possível sentir a interpretação transmitida pela nuances de sua potente voz.

A produção musical de “We are...” também se alinha a um perfil de qualidade muito afiada no quesito instrumental lapidando de forma calculada a sonzera. E é também surpreendente verificar que a banda imerge seus propósitos em sempre está neste contexto de reinvenção sem apelar para axiomas sonoros do passado que o elevaram ao status de grande popularidade. Nesta perspectiva, é evidente o nível de maturidade muito definido pelas pequenas tragédias que a banda já viveu.
O processo de confronto conceitual de seu som perpassa pelo apelo pop e deixa muitas possibilidades de infusão para poderem ser exploradas em outros trabalhos no futuro, visto que a banda assume de vez seu espírito intrépido em se reinventar, portanto a sensação de ouvir “We are Not Your Kind” é de ausência de uniformidade, portanto surpreendente a cada faixa.
O disco em poucas semanas se tornou um dos mais celebrados pela crítica acompanhando de um sucesso arrebatador de público assumindo a liderança da toplist britânica de álbuns de rock e top 10 nos EUA. Slipknot revela, portanto, toda seu arrojo e ousadia neste disco e se supera na forma como revigora o heavy metal e dar um solavanco na monotonia, ou melhor, na estagnação do segmento.
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