SEPULTURA: DAS SANGRENTAS RAÍZES AOS DIAS ATUAIS.
- Daniel Azevedo
- 13 de mai. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2019
Queira você ou não, o Sepultura é, atualmente, a banda de rock brasileira mais bem sucedida de todos os tempos.
O conjunto de heavy metal (para alguns, thrash metal) já vendeu aproximadamente 50 milhões de discos por todo o mundo, sendo referência para músicos como Corey Taylor (Slipknot), Scott Ian (Anthrax) e Lars Ulrich (Metallica). A banda já participou dos maiores festivais de música pesada já realizados, como o Wacken Open Air, Dynamo Open Air, Monsters of Rock, Hollywood Rock e Rock in Rio.
Fato é que o sucesso axiomático da banda mineira está relacionado à diversos fatores, em especial a originalidade. Apostando na incorporação de elementos da cultura brasileira em suas canções, o Sepultura ousou transbordar os limites da concepção clássica do heavy metal para desaguar em um solo até então inexplorado, fertilizando-o com suas "sangrentas raízes" e trazendo ao mundo um produto musical absolutamente inovador: o metal tribal.
Desafivelando os cintos de couro adornados com cartuchos de bala, o Sepultura decidiu se divorciar do estilo clássico que paramentava os músicos do metal à época. O visual era outro: bermudas rasgadas, tatuagens tribais por todo o corpo, cabelos com "dreads", tênis com meias longas e zero preocupação a respeito do que vestir. Max Cavalera, Igor Cavalera, Paulo Xisto e Andreas Kisser estavam absolutamente enebriados com a experiência adquirida durante a convivência com os índios da tribo Xavante. A parceria, inclusive, foi essencial para a concepção do disco "Roots" (1996), em que pese a banda já flertar com a ideia desde o álbum anterior, o "Chaos AD" (1994), mais precisamente durante a composição/gravação do instrumental "Kaiowas".
Após a banda atingir o ápice da carreira com Roots, algo inesperado acontece: a banda decide demitir a empresária Glória Cavalera, esposa do vocalista Max Cavalera, em um verdadeiro episódio "a la Yoko Ono". Sentindo-se apunhalado pelas costas, o vocalista deixou o grupo e seguiu a vida com outras bandas e projetos (Soulfly, Cavalera Conspiracy).
O Sepultura, que havia atingido o apogeu, agora experimentava uma queda vertiginosa em sua carreira. Sem o seu frontman, a banda estava aleijada. No entanto, logo após o anúncio da saída de Max Cavalera, o grupo decidiu enfrentar o maior de todos os desafios: procurar um novo vocalista, aquele que substituiria a eterna voz do Sepultura, responsável por imortalizar os clássicos "Arise", "Beneath the remains", "Chaos AD" e "Roots".
Neste hiato, a banda sobrevivia em trio, com Andreas Kisser assumindo os vocais durante os shows.
Após algumas audições, a banda finalmente encontrou aquele que parecia ser a peça chave: o americano Derrick Green.
Visto com bastante cautela (algo, aliás, comum em uma troca de membros de bandas), Derrick pareceu não agradar tanto aos fãs veteranos do Sepultura, principalmente em razão de sua nacionalidade, o que subvertia fatalmente a proposta até então encabeçada pelo quarteto "original" um ano atrás. No entanto, a insatisfação foi sumariamente calada após o lançamento de Against (1998), Nation (2001) e Roorback (2003), sequência de álbuns que atestou a sobrenatural capacidade vocal do novo vocalista. Apesar de demonstrar uma técnica vocal invejável e muito superior à do ex-frontman, Derrick ainda não tinha o "feeling" do seu antecessor. Faltava-lhe tomar as rédeas e assumir o protagonismo. Entretanto, e infelizmente, Green jamais foi visto como um frontman no Sepultura, estando este posto ocupado por Andreas Kisser, aparentemente em caráter vitalício.
Derrick gravou, ao total, oito álbuns de estúdio com o Sepultura, já estando na banda há aproximadamente 22 anos. Seu desempenho nos palcos melhorou de forma astronômica ao longo dos anos, tendo eternizado sua voz em grandes canções como "Sepulnation", "Ostia" (a melhor de sua fase, na minha opinião), "Bullet The Blue Sky" (cover do U2), "Mind War" (a segunda melhor), "Convicted in Life" (a terceira melhor), "We've Lost You" (do disco "A-Lex", na minha concepção, o melhor da banda na sua formação), dentre outros clássicos.
A entrada do americano no Sepultura gerou uma cisão de opiniões. Uns o idolatram, considerando-o o melhor vocalista da banda. Outros o desprezam, alegando carregar um elemento que não faz parte da filosofia endossada pelo Sepultura.
Gostando ou não, fato é que todos têm ao menos uma opinião em comum: o reconhecimento da capacidade técnica do vocalista. Derrick Green dominou todas as músicas da carreira da banda sem fazer esforços. Não desafina. Alcança o mais tenebroso dos guturais, arredondando a música do Sepultura e colando pontas soltas deixadas pelo irreverente e despreocupado ex-vocalista.
Na minha concepção, a banda fez uma escolha responsável. Aliás, Andreas Kisser, Paulo Xisto e Igor Cavalera (hoje, Eloy Casagrande) jamais pretenderam conclamar alguém com as mesmas características de Max Cavalera. Longe disso. Pensaram até mesmo em mudar o nome da banda, ideia esta que abortaram tão logo o novo vocalista assumiu os microfones diante dos expectadores. Derrick, sem dúvidas, avocou a ideologia da banda.
Como foi dito anteriormente, o Sepultura perpassou por diversas fases, mostrando versatilidade, adaptando-se às intempéries do meio musical, sobrevivendo a inúmeras tormentas ao longo dos anos, porém sem perder o título ou mesmo a preferência nos grandes festivais. É, sem dúvida, a maior banda brasileira de todos os tempos.
Foto extraída do link: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/musica/noticia/2016/10/sepultura-celebra-30-anos-e-promete-musica-nova-na-volta-porto-alegre.html

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