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PATTI SMITH – ARTE, PUNK, FEMINISMO E ENGAJAMENTO. ELA É O PODER.

Inglaterra, anos 70, em meio ao turbilhão da crise econômica, fazia-se necessário expressar artisticamente com fúria e uma certa repulsa pelo status quo representado pela cultura da convencional desigualdade de classes cuja as perspectivas desertava qualquer possibilidade de evoluir socialmente. Uma massa de excluídos se via negligenciados pelo Estado e pelas políticas de inclusão e oportunidades. A expressão artística que alavanca neste período é o movimento punk. Era necessário expor a decepção e evidenciar a frustração de uma geração de jovens, que o segmento transgressor do punk de tintas contraventoras radicalizou para poder transformar.


O enfrentamento ao sistema buscava na ideologia anarquista com viés progressista uma forma de canalizar seus protestos por meio de um movimento artístico-comportamental-cultural. Neste bojo de demandas envolvendo vários temas sociais como pobreza, desigualdade, efeitos do capitalismo e exclusão, o movimento punk se lança em uma perspectiva inovadora e pretensiosamente combativa aos pactos e convenções sociais. Neste contexto, as mulheres e suas demandas históricas de desigualdade encontraram abrigo e até mesmo refúgio.


Do outro lado do oceano, a cantora, compositora e poetisa americana, Patti Smith conseguiu captar a essência do movimento punk para se expressar artisticamente. Ela era de uma família pobre que passou por Illinois, Filadélfia e New Jersey sempre com muitas dificuldades financeiras, mas com um gosto especial por livros e música. Patti começou a trabalhar cedo em fábricas, engravidou na adolescência e entregou o filho para a adoção. Sucumbida à tristeza e melancolia, Patti decide abandonar tudo e partir para Nova York tentar ir a busca de um sentido de vida e pertencimento.



Sempre adicta aos livros, a jovem sentia que a megalópole Nova iorquina era a guarida de toda sua impetuosidade para proferir seus descontentamentos com a sociedade e com o fato de que as mulheres estão sempre como protagonistas dos maiores dramas da transformação social do mundo moderno. Ela era prova viva de todas suas inquietações.


Smith se envolveu com o fotografo artístico Robert Mapplethorpe que a incentivou para que buscasse um canal artístico e pôr para fora seu vulcão retórico, suas poesias e sua literatura. Mas Patti tinha uma necessidade de irromper a esfera das palavras e queria sublinhar com mais atitude seus pleitos e partiu para o rock influenciada pelas mulheres que estavam despontando no cenário do rock britânico no movimento punk.


Patti Smith ficou encantada em como um movimento tão rebelde, transgressor e incompreendido pudesse dar voz as mulheres sempre tão desvalorizadas no mundo da arte e assim vocalizar tantas demandas inclusas nos protestos punks. A então escritora começa a empreender na música e com seu violão inicia um processo de musicar suas poesias. Patty queria chamar atenção, e em 1975 lança “Horses”, produzido por John Cale do Velvet Underground, um disco essencial para o punk rock pelas várias referencias à contra-cultura revelada desde a foto icônica da capa até as letras e poesias recitadas. Smith segue nos discos seguintes imprimindo seu som cru na base para realçar suas letras e interpretações que abordam a insegurança, religião, política, melancolia, literatura e dramas existências sob a perspectiva das mulheres.


A punk rocker passar pelos anos 70 e 80 e até hoje se assumindo como uma figura central de influencia para o rock feminista. Considerada diva do underground de espírito romântico e ao mesmo tempo auto-destrutivo, Patty sempre teve seus discos na lista dos melhores de todos os tempos.


Mas Patti Smith não limita a se auto-denominar como cantora cujo segmento artístico o colocou nos holofotes da fama. Ela amplia seus tentáculos sob vários aspectos da arte: literatura, fotografia, poesia, musica, artes plásticas. O que converge todos estes recortes são o tom político, aliada a sua excentricidade e energia performática que consegue eclodir o suficiente para chamar a atenção às suas pautas.


O viés feminista de sua obra remete a necessidade de refletir o papel da mulher vivendo sua autonomia e assumindo sobre seus próprios atos. O feminismo de Patti é engajado e de luta pela igualdade, impôs respeito porque não se transforma em um discurso militante nem ativista. Patti gosta de circular por outras pautas humanitárias como refugiados, políticas públicas e pobreza.


Na esfera feminista a cantora expressa seu catálogo de abordagens na própria estética de sua arte. Para levantar a reflexão sobre o tema da objetificação e sexualização da mulher, Patti se descontrói como mulher para “modelar” como uma figura andrógena nas fotos artísticas que faz. Ela constrói suas obras a partir de suas experiências de vida e emprega em sua produção, afim de que seus dramas possam blindá-la da resistência refratária aos temas referentes á mulher, “Eu posso falar com propriedade de tudo que se refere as tragédias humanas potencializadas para as mulheres, porque vivi muitos desfortúnios. Seria perverso me abster de assumir uma postura combativa”, disse a artista em entrevista.



Patti Smith também direciona seu olhar crítico sobre a própria indústria da arte que em sua concepção é construída sobre um discurso de poder estruturada pela lógica patriarcal “me posiciono como uma artista que precisa se manter no enfrentamento, afim de consolidar ainda mais minha influencia na inserção de outras mulheres nas estruturas sedimentadas da cultura patriarcal ” assevera a cantora.



A influencia de Patti Smith para a história da arte ocidental é indiscutível e de relevância desmedida. Seu projeto multi-artístico nos convida a refletir para propor debates plurais e complexos sobre questões humanitárias acima de tudo. Como a construção de mundo perpassa por dimensões da qual a arte se torna ferramenta, Patti Smith vem se comprometendo há décadas com a luta pelas minorias assumirem seu devido lugar de poder. Mas é importante destacar que este setor político é apenas mais uma dimensão do seu catálogo: a arte de Patti Smith é mais ampla e não apenas “arte feminista”. Ela salienta: “estou aqui para desconstruir o essencialismo da arte feita por mulheres sempre marcada pela única e absoluta via de expressão de suas reivindicações feministas, mas pavimentar o caminho para a mulher ser livre para fazer o que quiser na sua produção artística, inclusive de ser apolítica. E creia! isso é um ato mais político que existe porque requer justamente exercer essa plena liberdade”.

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