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NICK DRAKE - CEDO DEMAIS

Nos anos 90, Renato Russo lançou um disco solo em inglês com músicas de compositores e estilos variados - “The Stonewall Celebration Concert” - e eu, como todo fã de Legião Urbana, procurei logo adquiri-lo. Uma música que me chamou a atenção logo de cara foi Clothes of Sand – composta por Nick Drake. No momento (a internet mal existia no Brasil) não havia como pesquisar informações sobre artistas, principalmente se eles não estivessem fazendo sucesso na época, então o nome se perdeu em minha memória, ficando apenas a música, que apesar da ótima interpretação do Renato, perde um pouco da força e do clima da gravação original, que até então eu não conhecia.

O tempo passou e essa música sempre esteve na minha memória e em minhas playlists. Por coincidência, uns dez anos depois, me deparo com uma citação sobre o autor e, dessa vez, já com a internet a todo vapor, pesquiso e descubro um violonista, cantor e compositor que pode ser considerado um dos melhores de sua época e talvez de todos os tempos: Nicholas Rodney Drake.



Falar sobre Nick Drake é um tanto quanto difícil, pois não existem vídeos sobre ele, e sua passagem pela terra foi breve. Como músico, foi ainda mais breve: de 1969 a 1974...breve, mas muito intensa.

Ele começou tocando piano, aprendeu saxofone e clarinete, mas a sua paixão mesmo foi o violão.

Como violonista frustrado que sou, sempre tento tocar as músicas que gosto, mas por mais que tentasse, não conseguia tocar as do Drake. Foi então que descobri que as afinações que ele usava eram completamente incomuns e experimentais. Cada música, praticamente exigia uma afinação diferente.

Nick Drake não apenas criava a partir do convencional, ele criava o inimaginável. Letras poéticas sobre a sua visão da vida, uma habilidade impar no violão e uma sensibilidade incrível colocam Drake entre os maiores artistas folk de todos os tempos.

Lançou o primeiro disco – Five Leaves Left – em 1969. Com arranjos elaborados de cordas e sopros, o disco, desde a música de abertura - Time has told me - , até a música final – Saturday sun, é um deleite aos ouvidos e já demonstra toda a capacidade de compositor e violonista de Nick Drake.

Apesar do disco ser bem aceito pela crítica, não fez o sucesso esperado e nas apresentações ao vivo Drake é um desastre, interage pouco com o público, chegando a fazer shows inteiros sem dizer uma única palavra, além do problema com a afinação, que tinha que ser mudada constantemente, atrasando as execuções das músicas e deixando o público insatisfeito.

Em 1970 ele lança seu segundo álbum – Bryter Layter - um disco mais elaborado do que o primeiro e tendo o jazz como grande influência. Com músicas como Poor Boy, Fly e Northern Sky, o disco mantém o nível do anterior, mesmo tendo usado caminhos diferentes.

Diferentemente do primeiro, o disco não agradou tanto a crítica devido a essa mescla de jazz/folk.

Ouvindo o disco, hoje, acho que ele foi incompreendido na época e não teve a devida atenção que merecia e nem a crítica que merecia.

As críticas negativas e a incapacidade de executar a sua obra ao vivo, deixam o já introspectivo Nick ainda mais recluso e desiludido com a sua carreira. Ele chegou a perguntar aos amigos como alguém pode ser tão elogiado e mesmo assim não conseguir alcançar o sucesso, aumentando ainda mais a sua depressão e frustração.

Em 1972 é lançado o terceiro e último disco de Drake – Pink Moon – gravado em apenas duas sessões, apenas com Drake e o engenheiro de som no estúdio. Durante todo o disco são usados apenas dois instrumentos, violão e piano, ambos tocados por Drake. Depois das gravações, Drake deixou as fitas na recepção da gravadora, deu as costas e foi embora sem dizer uma única palavra: Frustrado, isolado e deprimido.

O disco, na minha opinião, traz as melhores melodias e as melhores letras, mas o clima do disco remete a esse isolamento e depressão que tomava conta de Drake, tanto que ele sequer quis promover a divulgação do álbum.

O disco fecha a curta carreira de Nick Drake, como a faixa título – Pink Moon, Which Will, A Place to be e From the Morning.

Drake voltou a morar com os pais, o que piorou ainda mais seu estado psicológico. Ele sofreu uma crise nervosa e passou 5 semanas internado em um hospital. Começou a frequentar um psiquiatra e a tomar antidepressivos. Decidiu largar a música e arranjar um emprego. Tentou voltar a gravar, voltou ao estúdio, mas seu estado mental era tal que ele não conseguia tocar e cantar ao mesmo tempo, gravando apenas quatro músicas. Morreu em 1974, aos 26 anos, devido a uma overdose de antidepressivos. Até hoje não se pode afirmar se foi suicídio ou apenas um erro na dosagem dos medicamentos.

Coloco Nick Drake no mesmo nível de dois monstros sagrados do folk: Bob Dylan e Neil Young. Apesar do estilo de composição, das letras e do clima musical ser completamente diferentes, pode se notar a influência dos dois no trabalho de Drake.

Ele também influenciou vários artistas contemporâneos, como a Banda The Cure, que tem esse nome por causa de um verso de “Time has Told me” música do primeiro disco de Drake.


Apesar do insucesso em vida, Drake foi redescoberto e regravado por artistas como Norah Jones e Elton John. Heath Ledger estava envolvido em um projeto cinematográfico que contaria a história de Drak.

Suas músicas fazem parte da trilha sonora de vários filmes dos anos 90 e 2000.

O álbum Five Leaves Left é considerado, pela Rolling Stone, um dos 100 melhores de todos os tempos.

Para mim, suas músicas são atemporais e sempre me comovem, mesmo agora depois de tanto tempo, enquanto escrevo esse artigo, emocionado, ouvindo “Pink Moon”, eu tenho certeza de que o mundo perdeu cedo demais um dos maiores artistas do século 20...

“...and so we rise and we are everywhere...”

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