JOHN LENNON ODEIA, MAS EU NÃO - #3
- Nando Oliveira
- 18 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
Voltamos com mais delírios do nosso saudoso John, dessa vez avançando na cronologia e adentrando no maravilhoso White Album, de 1968, no qual Lennon não se sentiu satisfeito com seis das inúmeras canções que agigantaram aquele que, para muitos, é o melhor álbum da banda.
Ob-La-Di, Ob-La-Da abre nossa análise, sendo essa uma canção que John declarou ter sido uma perda de tempo muito grande, tempo esse que deveria ter sido gasto em outras canções do disco. Inclusive, ele e George barraram a ideia de Paul em transformar a faixa em um compacto. Aparentemente, essas viagens de John iam de encontro ao lado experimental dele, pois essa música é tão somente uma vertente do reggae da época, em épocas onde nomes como Bob Marley & The Wailers conquistavam o Mundo com suas canções, também. O título da canção, inclusive, foi emprestado de um jamaicano, de nome Jimmy Scott, que usava tal expressão como se dissesse “A vida segue em frente, mano”, refletindo justamente a atmosfera divertida que a canção tenta nos proporcionar e consegue.
Martha my Dear é a segunda de hoje. Uma canção exclusiva de Paul, detestada por John, inclusive por George também. Não há relatos de críticas de ambos sobre a questão da musicalidade da canção, até porque isso seria um despautério, mas sim pelo fato de ser uma tentativa desnecessária de Paul ser excessivamente pessoal nas suas composições. A música é dedicada a uma velha cadelinha do baixista, sheepdog, e tem influência de canções da década de 30, com harmonia e melodia belíssimas.
Dando sequência, Rocky Raccoon causava ódio em Lennon, misturado a vergonha. Ele chegou a assistir versões dela com outros artistas, inclusive Bob Hope, e agradeceu por não ser o compositor da canção. O estranho de tudo isso é que a música é uma das maiores obras de Paul de todo o disco, tendo sido totalmente influenciada pelas visitas que ele fez à Índia, mesclando esse country/folk maravilhoso, remetendo a épocas mais antigas, em I’ve Just Seen a Face, do disco Help, tendo a reutilização da gaita do próprio John, deixada de lados há tempos, como um dos pontos mais sublimes da faixa.
A penúltima faixa do dia é Birthday, a qual Lennon chamava de lixo, ironizando Paul por não ter conseguido repetir uma canção de sucesso, como foi a clássica Happy Bithday Baby, dos anos 50. A canção traz uma energia fortíssima, mais pesada do que a maioria das faixas do disco. Sua composição, curiosamente, é de Patti Harrison, mulher de George na época, aniversariante no dia. O vocal de Paul foi gravado de duas pistas e distribuído nos canais de estéreo, algo não usado desde o Revolver. Além de Patti, Yoko faz parte dos backing vocals.
Por fim, para mostrar que John odiava não só o que os outros construíam, mas também suas maravilhas compostas, a última faixa comentada de hoje é Cry Baby Cry, a qual ele negava que tenha sido de sua autoria, em diversas entrevistas, chamando a canção de “um refugo”. Mas sabemos que ele não apenas a compôs, como abusou de sua versatilidade tocando quase todos os instrumentos: violão, piano e órgão. A inspiração para a letra foi tirada de um comercial que John assistiu e traz como tema o consumismo.
Bem, encerro por aqui a análise destes clássicos e, quando retornar, será para dar desfecho a essa série.
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