FREDDIE MERCURY: A BIOGRAFIA DA VIDA DE UM ASTRO ABSOLUTAMENTE EXTRAORDINÁRIO
- Dostoievsky Andrade
- 8 de set. de 2019
- 9 min de leitura
Atualizado: 14 de set. de 2019
A personalidade criada por Freddie Mercury é o resultado de uma obstinação cultivada pelo cantor desde a sua infância. Freddy sempre quis ser um destaque singular em algo. Vítima de bullying pela aparência, pelo comportamento afetado e pela tendência em escolhas não convencionais voltadas para a cultura e para as artes, o líder do Queen projetou sua vida para ser um artista, mas claro, não imaginava que se tornaria o maior mito musical dos tempos modernos.

De ambuiguidade natural, sua personalidade passeou pelas vias de grandes dúvidas sobre seu real propósito de vida. Freddy se assumia bissexual, revelou e deixou muito claro que o grande amor de sua vida foi a jovem Mary Austin, não obstante ter vivido experiências homossexuais que perpassou aos relacionamentos mais promíscuos ao uma união homoafetiva madura. Freddie também se mostrava arrogante e prepotente em muitas situações, mas ao mesmo tempo era tímido e inseguro, sequelas de anos vitimizado pela exclusão. Sua introspecção e a reserva sobre sua vida e o bastidores das noitadas, preparação para shows e gravações de disco, intimidades da vida diária, sobre sentimentos e perspectivas nunca foram reveladas pelos próprio cantor(avesso a entrevistas e festas promocionais e baladas do mainstream) e de todos elementos que ilustram as várias biografias de Freddy são resultados dos inúmeros relatos de amigos, companheiros de banda, empregados e dos seus relacionamentos amorosos, ou seja não é definitivo sobre a verdade a sobre a vida do astro.
Freddy sempre foi uma figura centralizadora de toda engrenagem envolvendo a atividade musical do Queen. Brian May e Roger Taylor tiveram uma certa resistência para incluir Freddie na banda que estavam montando no final dos anos 60. Era uma figura estranha, que se vestia de forma espetaculosa e se revelava muito afetado quando assumia o palco. Eles queriam um cantor mais discreto. No entanto, a potência vocal de Freddie já impressionava neste período e eles terminaram sucumbindo a entrada do cantor na antiga banda Smile que logo foi modificada de nome com a entrada de Mercury para “Queen”. O cantor soube aproveitar a oportunidade e com um senso incomum de liderança e ideias progressistas e ousadas foram adicionados ao modelo singular do Queen que o tornou uma banda fonte inesgotável de inspiração e de muito dinheiro com royalties milionários mesmo após a morte de Freddie. Estima-se que mais de 100 milhões de dólares foram depositados nas contas dos ex-integrantes do Queen e dos herdeiros de Freddie, Mary Austin e a sua irmã apenas com o sucesso estrondoso do filme Bohemian Rhapsody.
Mercury assumiu uma versão de persona artística megalomaníaca, tinha uma obsessão de ser uma estrela que precisava ter um destaque solar nos grandes eventos. Sempre exagerava ao máximo nos pedidos mais bizarros para estar disponível nos camarins e hotéis, sempre fazia questão de se excluir das demais estrelas do rock para aparecer apenas no palco e depois se recolher impulsionando histórias e especulações. Tinha uma relação umbilical com os integrantes do Queen no quesito artístico, mas se distanciava ao máximo nas relações sociais com os amigos de banda. Este distanciamento o impulsionou no auge da carreira a assumir a uma trajetória solo sem muito sucesso, o que depois foi reconhecido pelo próprio Freddie que o Queen em sua integridade era um mágico encontro de “nobres da música que em convergência se alinham em uma composição rara, única de excepcionalidade particular”.

Freddie chegou aos 18 anos em Londres já com a ideia de que era necessário caçar algum espaço no universo da música. Sempre foi um garoto apegado as artes, tocava piano clássico e sempre cantava nos festivais. Freddie se destacou nesta época por assumir um lado extravagante e exibicionista no jeito de se vestir e viver na cena musical underground de Londres. Terminou a faculdade de Design, mas não se empolgou pelo fato de não conseguir trabalho em face do preconceito que albergava em seu perfil: um jovem estrangeiro, com sotaque e com aparência esquisita. Se reconhecia melhor no universo das artes e decidiu que seria um astro da música. Idealizou um projeto musical em que ele seria o astro e instintivamente iniciou seu plano.
Freddie tinha uma personalidade forte no que se referia aos propósitos pomposos da banda. Tinha ideias megalomaníacas e os integrantes apesar de achar inalcançável deixou que Freddie empolgado assumisse este trabalho de promover a banda. Foi neste ímpeto que os dois discos da carreira da banda ingressam na cena musical com um certo despertar de interesse, mais pelo apelo visual e presença marcante nos shows com Freddie “teatralizando” as performances do que pela música. Com o sucesso de “Killer Queen”do disco “Sheer Heart Attack” e mudanças de empresários e gravadora tudo estava preparado para que a banda pudesse então mostrar sua potência artística até então encarada como promessa. Freddie teve a ideia de se isolar para que se inspirassem a fazer o próximo disco e especialmente o hit que pudessem trabalhar no lançamento do álbum. Alugaram uma mansão velha em Hereforshire e iniciaram a imersão para criar a obra definitiva da banda: “Bohemian Rhapsody” do disco “A Night of The Ópera”.
No começo a ideia estapafúrdia de incluir rock e ópera foi ridicularizada pela banda. Freddie convenceu Brian de que tal mistura era o mote perfeito para criar um cenário de eloquência em shows e até usar muita criatividade inovadora em setores visuais como o vestuário e um clipe musical. Os músicos então se envolveram de cabeça no projeto e o resultado foi inesperadamente estrondoso. A gravadora com muita resistência de lançar uma música com cerca de 6 minutos para se tornar um hit, pleiteou a Brian (o mais diplomático da turma) para criarem uma versão mais consumível. O guitarrista do Queen se negou e fazer qualquer mudança. Os produtores quebraram a cabeça para criar uma versão mais curta e entregaram nas rádios as duas versões com recomendação para passar a mais curta. O Dj Kenny Everett da Capital Radio, a mais famosa de Londres em 1975, escutou a versão original e se encantou. Prometeu assertivamente que passaria a versão comercial. No dia do lançamento Kenny passou a versão completa de Bohemian e o excesso de pedidos para repetir a música foi tão intensa que no mesmo dia a canção foi executada 16 vezes. Em 1975 Queen se torna uma banda de reconhecimento mundial iniciando uma trajetória de shows, lançamentos de discos e clipes que se tornaram mitológicos.
No período de busca pela conquista do triunfo do sucesso, Freddie se assumia como um rockstar: Um frontman excêntrico, afetado, posudo e com uma voz extraordinária cantando rock que versava sob várias influencias. Nunca despertou maior interesse sobre sua ambiguidade sexual porque assumiu um relacionamento seríssimo com uma garota simples e extremamente ingênua chamada Mary Austen. Freddie conheceu Mary na loja de roupas em que comprava seus modelos extravagantes e sempre pedia opiniões sobre o visual de suas apresentações no começo da carreira. Mary se apaixonou por Freddie que via nele uma figura de grande potencial artístico e que mesmo se lançando com uma altivez incomum era extremamente dependente dela. O cantor via em Mary a pessoa pura e cristalina que ele sempre sonhou como companhia. Nunca lhe criticou, aceitava todas as suas virtudes e grandes defeitos e o amava do jeito que ele era. Para uma personalidade perturbada por anos de julgamento ter encontrado uma pessoa como Mary foi seu grande refúgio, uma âncora para suportar as pressões da fama e de seus próprios fantasmas.
Era um relacionamento diferente de mais interdependência emocional e de menos relação amorosa convencional. Com a orientação homossexual de Freddy explodindo principalmente com as facilidades da fama, o relacionamento se encerra com Mercury revelando honestamente sua homossexualidade para Mary que em sua doçura peculiar revelou “nunca vou deixar de te amar”

Sua relação umbilical com a garota não o permitiu de desfazer de um contato afetuoso criado por quase seis anos de relacionamento. Mary continuou trabalhando na agência do Queen cuidado particularmente dos negócios envolvendo o ex-namorado. No campo amoroso Freddy inicia uma jornada de relacionamentos voláteis, extremamente promíscuos regadas a muitas baladas envolvendo garotos de programa, drogas, bebidas e sexo grupal. Viver nos bastidores obscuros da cena gay era pretensiosamente uma estratégia de Freddie para evitar que sua homossexualidade fosse exposta com evidência material. O cantor também aparecia mais másculo como bigode marcante, vestindo camisetas e jaquetas de couro e rodeado de garotas nos clipes. Mercury sempre foi temeroso quanto ao fato de se lançar como um artista gay no universo do rock culturalmente marcado pela figura viril do vocalista de rock. Ao se permitir viver as experiências de sua sede pelo amor carnal, Freddie estava mais feliz e declara com euforia e regozijo na canção “Dont Stop me Now” – Não me pare agora estou me divertindo muito...
Freddie sempre muito generoso, presenteava seus amantes e os convidava para morar em sua mansão. A maioria se aproveitava de seus status, de seu dinheiro e o traia. Tinha uma amizade questionável e controversa com uma ex-atriz austríaca chamada Bárbara Valentin que Freddie conheceu em Munique. Bárbara passou a lhe acompanhar em noitadas regadas a muita droga e sexo a três ou mais e aproveitava convenientemente para ser uma parceira que se passava por “namorada” para a mídia. O agente Paul Prenter nessa altura era um faz-tudo para o cantor assumindo a intermediação de negócios do vocalista com ações suspeitas de desvios e promovia as baladas que supriam o apetite hedonista voraz do vocalista. Depois do sucesso bombástico do disco The Works no inicio dos anos 80, os conflitos internos com os integrantes do Queen que não engoliam suas escolhas com agentes e promoções envolvendo a banda e seu pífio trabalho solo, a banda segue sob a regência de Freddy fazendo escolhas equivocadas como tocar na África do Sul em pleno boicote contra o movimento apartaid. Esse foi um dos motivos da exclusão de Freddie nos musicais promovidos por Bob Geldof para as campanhas de fome na África. Quando Bob ainda em fase de criação idealiza o festival Live Aid não incluiu o Queen. Mas foi rendido a aceitar pelos pedidos de fãs e pelo sucesso do ultimo disco da banda. Mas decidiu: “O Queen vai abrir o festival e só vai ter 20 minutos para aquela bicha velha se esparramar no palco”. Enquanto as outras bandas estavam encarando o festival como um recorte de exposição e de solidariedade, Freddie estava totalmente focado em aproveitar o momento para mostrar todo seu esplendor como artista e tornar o Queen uma unanimidade. A banda passou duas semanas ensaiando em uma igreja vazia e cronometrou cirurgicamente o espetáculo que se tornou os 20 minutos mais decisivo da história do rock ocidental com um show paradigmático.

Com a repercussão fenomenal do show do Live Aid o Queen retoma o sucesso colossal ainda mais com o lançamento do disco The Kind of Magic depois da estrondosa glória do disco The Game. Neste mesmo período Freddie se recolhe sinalizando um comportamento até estranho para quem se expunha como um kamikaze aos prazeres da vida. Confirmado o diagnóstico de AIDS em plena confusão de falta de informação, respaldo científico sobre a doença e o preconceito erosivo a quem era portador da doença, Freddie se reserva, assume uma rotina mais saudável e se dedica a abraçar projetos musicais com energia mais focada.
Freddie Mercury sempre teve alguns funcionários fieis que as vezes os convertiam em amantes, mas se apegou a um deles chamado Jim Hutton, um sujeito sereno e maduro. Uma personalidade muito parecida com a de Mary que ele assume como companheiro. Hutton e outros funcionários passam a assumir as rédeas de sua rotina domiciliar sob os cuidados também de Mary Austin que nunca o abandonou, mesmo casada e com filhos.
Sofrendo o impacto da evolução da doença, testemunhando vários amigos morrerem das consequências do HIV, Freddie começa a sucumbir físico e psicologicamente, adquirindo doenças oportunistas. Era momento de se pensar em um desfecho. Retoma a convivência com a família, que se distanciou no auge da fama, e que nunca revelou sobre sua orientação sexual e a doença, fecha a produção do ultimo disco do Queen e se recolhe isolado sob os cuidados de Hutton, seu assistente pessoal Peter Freestone e de Mary Austin. Em meados de novembro de 1991, a mídia revela por confirmação do médico e agente de Freddie que ele está em estado terminal em decorrência da AIDS. Seus últimos dias foi de grande sofrimento com perda da visão, queda do estado geral, caquexia(magreza extrema) e muitas dores. Ás 19 horas do dia 24 de novembro foi anunciada a morte de Freddie Mercury

Jim Hutton em biografia revelou que os últimos momentos de Freddie foi plácido, silencioso e brando o que o confortou diante da angustiante e sofrida anterior semana à sua morte. O amigo Dave Clarke que o acompanhou neste momento terminal revelou que Freddie Mercury foi fiel ao seu compromisso de encarar sua doença como um problema unicamente dele: “ele nunca falava sobre a doença, eu respeitava sua reserva sobre esse tema, até que um dia perguntei seu ele não queria se abrir. Ele me disse que sobre o seu mau, caberia apenas a ele enfrentar este demônio; para os outros queria deixar o melhor dele”. Mary seguia sua rotina diária de cuidar dos filhos e de Freddie neste difícil momento terminal. Revelou em uma das biografias “foi muito difícil manter o controle emocional ao vê-lo assistindo seus vídeos de shows e afirmando – eu costumava ser tão bonito! Eu respirava fundo emocionada, sorria e dizia que ele seria sempre meu "Farrokh" ou seja meu robusto rei de Zanzibar” Em seu último diálogo Freedie pediu para Mary jogar suas cinzas em lugar desconhecido de todos(nunca revelado, até para os familiares) e se despediu com a frase: "Você sempre foi o amor da minha vida”
Farrokh Bulsara morreu em 1991 deixando um vácuo sem precedentes. Um artista tão impar que se torna uma lenda, um mito simbólico do poder que representa a música, um ícone que se perpetua pela habilidade natural de ter atingido com sua potência musical o alcance sublime da perfeição.
** Fontes: Biografia escrita pelas autoras Laura Jackson e Lesley Ann-Jones
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