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FLEETWOOD MAC COM “RUMOURS”: DO CAOS AO OLIMPO DA PERFEIÇÃO

No inicio dos anos 70 a banda britânica Fleetwood Mac composta por Mick Fleetwood, Bob Welch, Christine e John McVie passava por uma crise enorme, um colapso criativo, conflito judicial envolvendo o uso do nome da banda; brigas internas e uma mudança de vida e cultura ao se deslocarem de Londres para Los Angeles afim de conquistar novas possibilidades artísticas com apoio das gravadoras. A instabilidade e a pressão foi tão aterradora que o guitarrista Bob Welch não suportou e deixou a banda quando eles estavam em pleno processo de criativo para elaboração do novo disco.



Fleetwood se interessou pelo trabalho do guitarrista Lindsey Buckingham e o convidou para integrar à banda. Buckingham aceitou desde que sua companheira Stevie Nicks integrasse também. Ninguém se opôs e a banda ganha uma nova configuração. Em 1975, Fleetwood Mac lança um álbum com vários hits que passaram semanas no topo da Billboard e eles ganham prestígio no mercado fonográfico americano e entram no circuito dos grandes shows. A tumultuada vida dos músicos provocaram um desgaste súbito entre os integrantes com a separação de Christine e John e também de Buckingham e Nicks que viviam de tretas decidem por um fim no relacionamento. Mick também estava em elevado grau de tristeza por descobrir que a mulher o traia com seu melhor amigo. A banda estava em frangalhos.


Com a incumbência de gravar mais um disco a banda posterga, mas teve que se reunir para criar o novo álbum por compromissos contratuais. O clima era péssimo e intolerável. A maioria dos componentes estavam tresloucados com as drogas, não havia mínima socialização e nenhum empenho para criar letras e musicá-las. O tempo ocioso no estúdio eram movida a brigas.


A banda já estava com a finanças avariadas e em uma reunião com a pressão dos produtores e gravadora, a banda assume de vez o compromisso de concluir o trabalho para depois seguirem suas vidas. Buckingham e Nicks iniciaram os trabalhos de criação mesmo com muitos desacordos sobre arranjos e letras. O disco é concluído ainda com problemas de mixagem que quase põe tudo a perder e sob ameaças de que uma nova reunião com eles se digladiando seria uma missão impossível.


Os produtores estavam extremamente cismados com o resultado. Quando ouviram o disco ficaram em estado de perplexidade: “Uau isso vai ser um estouro! ” Um estratégico plano de marketing foi utilizado para movimentar a curiosidade de “Rumours” o novo disco do Fleetwood Mac em 1977. Com o lançamento de “Go Your Own Way” e de “Dreams”. As canções foram direto para as listas das mais ouvidas do ano e foi aclamado pela crítica. O disco também foi movimentado com a história dos bastidores que se tornou uma fonte de fofocas e que alimentou a curiosidade pela banda impulsionando ainda mais o arrebatador sucesso incrível do disco. Dois casais se separando no auge das brigas, novas relações surgindo (Christine emendou a separação se relacionando com o iluminador dos shows da banda), conflitos pelos bens do divórcio rolando solto. O cenário caótico foi transportado com todas as emoções para as letras e interpretações das músicas, o que permitiu que o disco fosse traduzido na imaginação das pessoas como uma verdadeira catarse.



O disco é extremamente acessível, de pegada pop, engenhosamente construído com instrumentação complexa e com uma confluência de vozes que marcam o estilo singular da banda. As letras também se mostram intimistas e arrojadas. O disco começa com “Second Hand News”uma balada enérgica e dançante. Segue em “Dreams” que se revela com um forte apelo pop e melódico e um tanto dramático (com acordes simples e pulso descontraído fazendo referencia ao R&B e um arranjo incrível). Na voz de Steve Nicks a música ganha uma brandura afável e doce.


Buckingham se supera na clássica folk “Never Going Back Again” com linhas melódicas de ritmos e arpejos tradicionais do estilo. Em “Dont Stop” o tema do fim de um relacionamento dá um tom de esperança, fé e perspectiva em uma balada lindíssima. A marcante “Go Your Own Way” tem na interpretação de Bucky e Nicks um furor incontido, pois a música revela justamente o contexto do fim da relação entre os dois . Foi uma luta possante incluir a música no álbum pois Nicks não queria ficar relembrando o episódio toda vez que cantasse nos shows. Por azar a canção foi a primeira a ganhar seu lugar no pódio das mais relevantes canções de rock de todos os tempos. Impossível ficar indiferente à belíssima e triste “Songbird”, uma canção que aborda os desgostos resultantes da entrega incondicionada ao amor e a decepção de enfrentar a dor da desilusão. A canção “The Chain” com uma textura mais pesada e iluminada com riffs de guitarra mais impetuosa é a descrição exata de todas emoções e sensações vivenciadas pela banda neste processo de dissabores e mágoas no decurso da criação artística. O clima muda com “You Make Loving You” que aborda redenção e abre possibilidade de recomeço criando uma atmosfera de esperança e otimismo. O alento de animação e entusiasmo segue com a balada country “I Dont Want to Know” que motiva sair da cadeira e começar a dançar. Mas claro, que as duas ultimas canções( “Oh Daddy”e “Gold Dust Woman” recobra a melancolia que monta o tecido de mágoa, acidez e apelo reflexivo da obra.



“Rumours” é, portanto, um disco obrigatório tanto pelo convite a reflexão acerca das implicações do amor e seus desdobramentos quanto pela sagacidade musical, mesmo sendo um disco pop na essência. Um soft rock com uma interposição de outros gêneros do rock que o torna uma obra prima que nunca ficou datada.


Mesmo depois de 40 anos, Rumours é uma obra que virou referencia e ainda desconcerta pela sua áurea histórica e pela perfeição com que contribuiu para arrebatar corações ainda hoje. Em 2011 “Rumours”foi direto para o top 10 da Billboard 200 depois a que série Glee fez um tributo musical ao disco. A influencia do Fleetwood Mac para a música pop também ditou o formato do estilo de Florence and the Machine, The Cranberries, The Corrs ,Taylor Swift, Mike & The Machanics



A importância deste disco é imensurável, e seu legado musical se dissemina com uma capacidade extraordinária de captar o culto de novos adeptos construindo pontes para que novas gerações possam contemplar o rock em seu âmago mais pop, simples, acessível e abordando temas sentimentais tão universal, usual e ordinário quanto os dramas existências clássicos do homem moderno. É ai é que está a mágica de uma obra prima: o menos é sempre mais.

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