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FAITH NO MORE EM THE REAL THING – TRINTÃO REVOLUCIONÁRIO

No inicio dos anos 90 o rock estava inerte em águas paradas submisso ao modus clássico em que peso, elementos inexoráveis da sonoridade, altitude e linguagem continuava a mesma dos anos 70, década em que o rock assume versões menos previsíveis.


Especialmente em 1989 a banda americana Faith No More(FNM) lança um disco que divide as águas do rock até aquele momento e assombra a comunidade roqueira mundial. Não se tratava de uma banda novata. Era veterana(surgida no inicio dos anos 80), com um cantor inexpressivo e imergido no microcosmo do rock alternativo.


Mas com a entrada do novo vocalista, Mike Patton, FNM conseguiu impor um novo panorama ao som da banda, e na modéstia, oscilou a estrutura engessada do rock naquele período. Com uma voz potente e uma presença enérgica de palco pouco vista em bandas de rock naquela época, Mike(que teve liberdade total de criar), escreveu as letras e ajudou na composição de todo o disco na sua estreia.


O resultado foi tão impactante, que todos elementos da engenharia sonora do FNM se amplificou com a entrada de Patton: o punk, metal, jazz, funk, rap e até o pop foi colocado no liquidificador e o fruto deste mosaico teve o remate de tornar o disco “The Real Thing” um dos maiores clássicos modernos do rock mundial e elevou a banda ao posto de uma das maiores de todos os tempos, visto que o reflexo desta obra não apenas consolidou a sua qualidade como também influenciou outros segmentos do rock dos anos 2000 em diante.



Como todo bom disco tem que começar já deflagrando a bomba, “From Out of Nowhere” é tão potente, vigorosa e dinâmica que os novos elementos sonoros do FNM já estão ali expostos, porém, na medida certa com o fim de instigar a curiosidade para as próximas faixas. Mas é com “Epic” que o Godzilla se revela, e aí a quebradeira começa com um empoderamento tão robusto dos variados estilos nadando em sintonia, que ao final se percebe que se desponta uma nova obra prima. O título da canção não poderia ser mais sugestiva: a música se tornou um épico com um clipe com tons impressionistas e se tornou um clássico MTViano.


O notável baixo de Billy Gould amplifica ainda mais a pesada “Falling to Peaces” e segue com “Surprise! You’re Dead”, a canção mais compacta e pesada do disco com tom sinistro e vocal quase gutural de Patton, imprimindo uma perspectiva opressiva.


Segue curvando o ritmo dedilhando um riffizinho com um órgão amplo para criar uma atmosfera quase onírica e chegar no meio da canção explodindo e convidando quem ouve a bater cabeça. A faixa título “The Real Thing” tem na relevância de sua letra e o ápice das misturas de estilos dispostas no álbum seu momento mais expressivo e vultuoso.


“Underwater Love” e “The Morning After” são canções que reforçam ainda mais a textura e densidade no modus operandi da banda. A instrumental "Woodpecker From Mars" revela o quanto O Faith No More corrobora com a execução perfeita em todas as canções elevadas aqui a crista da excelência.


Para celebrar o rock raiz e sinalizar que toda aquela experimentação tinha um viés medular no classic rock, o cover de War Pigs de Black Sabbath agrada até o mais caustico dos céticos.


Para fechar uma obra prima, nada da previsibilidade. Fica patente que a banda queria mesmo alterar a rota do rock e arremata os corações com “Edge of the World” um blues em clima e atmosfera jazzística transportando a galera para o sul dos EUA e deixando o recado que tudo aquilo começou ali.



Quem não conhece “The Real Thing” vai achar tudo muito “deja vú” depois que Faith no More abriu as comportas do new metal no final dos anos 80 e serviu de influencia para muitas bandas que surgiram depois. Mas quem viveu a intensidade musical daqueles anos, sentiu na pele o impacto sonoro e sobressaltante da banda e deste disco que completa 30 anos em junho de 2019. Uma amostra de como ideias, despretensão e espírito ousado pode transformar o status quo, e assim se insurgir contra o marasmo cultural e das intocáveis e estáticos modelos clássicos do rock que durante anos e implacável e austera paralisia ninguém quis encostar por se achar que o rock já tinha atingido a plenitude com a efervescência criativa do final dos anos 60 e 70.

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