DEGUSTE A BANDA KEANE(QUE O BRASIL AMA) EM SUA ESSÊNCIA, NO DISCO QUE REPRESENTA SUA SONORIDADE.
- Dostoievsky Andrade
- 24 de fev. de 2020
- 3 min de leitura
Em Dezembro de 2019 a banda britânica Keane fez uma única apresentação em São Paulo no Espaço das Américas para divulgar seu mais novo álbum “Cause and Effect” na turnê de mesmo nome, e o público que lotou o local foi unânime em afirmar: Foi o melhor show do ano. A banda ficou tão impressionada com o carinho do público brasileiro cantando todas as músicas e delirando com a performance que no instagram declararam: “O que foi isso no Brasil, que amor é esse? Só gratidão por este povo lindo”. A certeza desta reciprocidade demonstra que a banda tem espaço cativo no coração dos brasileiros mesmo com os percalços de separação, problemas envolvendo drogas depressão do líder da banda e a falta de hits que vem marcando os últimos trabalhos da banda.

Formada por Tom Chaplin(vocal), Tim Rice-Oxley( teclado), Richard Hughes(bateria) e Jesse Quin( baixo) no final dos anos 90, Keane é uma banda que marcou o inicio dos anos 2000 com sua sonoridade impar sublinhada pelo teclado e orbitando pelo rock alternativo do viés indie-pop. Como muitas dificuldades de achar um guitarrista no começo da trajetória, eles precisaram se reinventar adotando o teclado como instrumento principal de suas criações.
Quem não conhece o Keane em sua essência ou apenas se deparou com seus hits clássicos como “Somewhere Only We Know” e “Everybody Change” precisa degustar o disco mais superlativo da banda e assim explorar todo o cardápio de álbuns incríveis e canções sempre deleitosas. E o disco a ser apresentado é o de estréia da banda, lançado em 2004 chamado “Hopes and Fears”. O disco foi sucesso de público e crítica e a banda levou vários prêmios Brit Awards de banda revelação, melhor álbum e canção com “Somewhere Only We Know”. O alicerce sonoro do disco amplifica sob o suporte do piano e da bela voz de Chaplin que avulta com tanta limpidez sonora que nem sentimos a falta da guitarra. As canções são brandas, leves e melódicas sem nunca apelar para o drama ou para o previsível.

O suplemento do piano nas canções confere com atmosfera de sofisticação. Há uma textura synth que ilumina as canções e que se elevam em momentos das músicas denotando a sua natureza levitante. A toada percorre pela essência solene do piano demarcada por letras que abordam a melancolia existencial e também o inconformismo, mas não ecoa em tristeza e sim em reflexão e prazer. O sintetizador se mostra tímido porque busca-se dilatar a estrutura de identidade da banda. Em “She Has no Time” a voz de Chaplin é tão pronunciada e com falsetes tão complexos que pretensiosamente o instrumental opera na faixa de base com som mais ameno e modesto para destacar a potencia vocal de seu vocalista e ao mesmo tempo pronunciando a letra e a beleza da canção.
O conceito do disco é muito representativo e reverbera muito da essência do título “Hopes and Fears”, ou seja disseca a angústia e a amargura, mas lança um olhar complacente com a esperança, conduzindo a uma atmosfera de fé, perspectiva e redenção sem turvar a realidade dos infortúnios e tragédias da vida. Este momento é cristalino em “One a Day Like Today” de ritmo leve, sereno e um final tão delirante que faz o ouvinte flutuar.
A escuta do disco dá a impressão que “Somewhere Only We Know” e “Everybody Change” é mais um dos hits de um lista de canções que flertam com o pop e com melodias de potencial para hit como se vê “Your Eyes Open”, “Can’t Stop Now” “This is The Last Time” e “Bend and Break”, não obstante as escolhas para singles( as apontadas acima) terem se tornados hinos do rock alternativo. O disco é aquele que não precisa pular nenhuma faixa.
A música “Bedshaped”é uma das prediletas da banda, marcada por sempre fecharem os seus shows. Tem uma pegada syhth leve no começo e uma crescida sonora tão arrebatadora e eruptiva com ecos de coral que é impossível não se emocionar. É um disco de estreia cativante, irresistível, pegajoso sem nunca se tornar enfadonho. É portanto, o disco que vai lhe lançar para os excelentes outros trabalhos da banda de Battle na Inglaterra.
É evidente na escuta que o Keane se influenciou marcadamente pela cultura musical dos anos 80 além do rock clássico. Mas sua marca simbólica em manter a distância do âmago radiante das canções daquela época o colocam como uma banda que toca musicas lindas, honestas e ao mesmo tempo profundas e reflexivas sem apelar para o down rock tão usual na “indie music”.
No show do ano passado a surpresa era patente para a banda e Tom Chaplin se mostrava incrédulo de canções do disco “Cause and Effect” estarem na boca do público brasileiro com ele deixando-os cantar as músicas. O show em São Paulo revelou o quanto a banda tem solidificada seu legado musical no Brasil tornando umas das mais adoradas bandas estrangeiras no país.
Commenti