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BLACK SABBATH: A REUNIÃO I

Toda aura mítica envolvendo o Black Sabbath tem na titulação reconhecida de precursora do heavy metal como a banda que inaugurou no começo dos anos 70, todo um arcabouço sonoro que seria a essência basilar de influencia do rock moderno. Sua engrenagem sonora pesada, densa e distorcida articulava muito bem com um viés melódico, muito influenciado pelo blues, folk e rock and roll exercido pelas experiências passadas dos membros da banda. O investimento em inserir elementos gravitacionais de peso, temáticas macabras e performances épicas foram marcas principiológicas de um segmento do rock que se desenvolve a partir da alavancada debutada pelo Black Sabbath.


A consolidação da cultura heavy metal sedimentou-se com a persistência estética do Black Sabbath em solidificar seu estereótipo, seja no campo musical como no artístico. E esta seria a magna contribuição da banda para firmar o estilo e servir como parâmetro influenciador de todas as bandas que viriam depois.


É certo também que todo o experimentalismo adotado pela banda e sua proposta de fundir elementos do rock são muito marcantes neste modelo adotado pelo grupo. A necessidade de criar um clima soturno, lúgubre, sombrio motivou a banda a estabelecer uma conexão sonora com um cerne mórbido desta proposta, modulando o som para andamentos mais lentos e com guitarras sujas afim de evocar este cenário.


Neste sentido, o Black Sabbath além de batizar a textura do som ainda criou um subgênero: o “doom metal”, baseado na descrição técnica revelada acima. Portanto sua contribuição tem um amparo histórico e cultural que torna a banda umas das melhores de todos os tempos.



As polêmicas sempre foram também um elemento orgânico deste modelo concebido pelos caras. Analisando as biografias do BS percebe-se que todo este movimento revolucionário manejado pela banda não teve um mínimo de estratégia, e todo processo criativo surgiu de forma tão instintiva e despretensiosa que até termina decepcionando os fãs. Sempre foi patente que a biografia do Black Sabbath teve nas drogas seu apogeu ao triunfo assim como vertiginosa foi a queda em vários momentos flutuantes dos mais de 30 anos de vida da banda.


Percebe-se então que os membros da banda se comportavam como jovens vivendo experiências em tempo real, de uma juventude entregue as concepções hedonistas da filosofia da felicidade, e que para alcançar a plenitude deste modelo de vida, a música, as drogas e as relações se tornaram o âmago desta visão conceitual do modus vivendi do rockstar.


E ai se compreende como Tony Iommi, Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Bill Ward se lançaram neste projeto se jogando no fluxo deste alucinante cenário movido a muita droga e de todos os tipos. E claro que neste contexto nefasto, os desfechos são previsíveis: muito descontrole emocional, egos mega insuflados, conflitos internos, tudo isso com impacto negativo na própria obra. Nestas circunstancias lidar com a grandiosidade do monstro incontrolável que transformou o seu som, terminou por coloca-los em um processo de autofagia que envolvia de falta de autoconfiança, malícia para lidar com o setor financeiro até as graves crises de saúde.


Mesmo assim, o legado artístico que esteve sempre desarticulado dos bastidores da banda, se tornou a essência espiritual do invólucro mítico do Black Sabbath. E é este patrimônio musical que milhares de fãs e adoradores do heavy metal destinam o seu reconhecimento para com a banda.


Nesta perspectiva lendária que a banda assume, eu indico por questões técnicas e também histórica o primeiro reencontro dos caras em 1998 depois de 12 anos de separação com saída Ozzy em 1979 registrado no excepcional disco ao vivo “Reunion”. O álbum fez um sucesso tão estrondoso que reanimou a banda a seguir em uma turnê mundial no mesmo ano. O material foi gravado ao vivo em 1997 na cidade natal dos caras em Birmingham na Inglaterra.



Os bastidores deste épico encontro começa ainda 1997 quando Ozzy idealizou o festival OzzyFest com participação na ultima parte do show solo de Ozzy de Butler e Iommi e depois com Ward tocando músicas do BS. Quando o show “Reunion” foi marcado a preocupação era com o estado de Bill Ward, se o baterista aguentaria suportar duas horas e meia de show. Vinny Appice ficou de prontidão, mas o coroa aguentou o tranco de dois dias de show na boa.


O disco duplo mesmo com duas faixas inéditas, todos os clássicos dos álbuns mais relevantes do Black Sabath estavam ali como “War Pigs”, “Behind The Wall Of Sleep”, “N.I.B”, “Fairies Wear Boots”, “Eletric Funeral”, “Sweet Leaf”, a inédita ao vivo “Spiral Architect”, “Into the Void” e sob os gritos da plateia impulsionadas por Ozzy bradando Cocaina em “SnowBlind” no disco I. A atmosfera frenética do show épico é sentida no álbum ainda mais com Ozzy vibrando e com uma energia atípica.



A zoada segue no disco II com “Sabbath Bloody Sabbath”, “Orchid/Lord of This World” e a famosíssima “Black Sabbath” do disco inaugural que já prepara o público para as explosivas “Iron Man”, “Children Of The Grave” e “Paranoid”. O desfecho do álbum segue com as inéditas “Psycho Man” e “Selling My Soul” trazendo alguns novos elementos como a bateria eletrônica. Na época estas duas canções entraram no top 20 da Billboard e o álbum “Reunion” levou o disco de platina em 1998.



As repercussões positivas do disco e o seu sucesso estrondoso reacendeu na banda a vontade seguirem juntos com o Black Sabbath como projeto paralelo, já que todos estavam envolvidos nos respectivos projetos solos. A turnê "Reunion" foi um sucesso fabuloso, até que Ward após um ataque cardíaco precisou se ausentar sendo substituído no Vinny Appice. Após as apresentações do “Reunion Tour” a banda seguiu envolvidos em seus projetos solos, já que a ausência de Bill Ward por orientação médica era de se aposentar e o projeto esfriou.


Mesmo com o recente “13”e o “13 Tour”( que muitos consideram como o “Reunion II) de 2017 que retoma a união da banda, o registro de 1998 tem uma qualidade e tom muito especial. A expectativa para essa primeira reunião dos mitos do heavy metal era muito esperada e representava um misto de nostalgia e reverência àqueles que jogaram as sementes, regou e fertilizou o solo do hard rock para que uma geração pudesse expressar seu manifesto artístico neste segmento.

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