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ANDRE MATOS: MINHAS CONDOLÊNCIAS E RECORDAÇÕES

Juro-lhes por tudo o que há de mais sagrado nessa vida: na última semana, fui contido por uma grande vontade de ouvir o disco Holy Land (1996) do Angra, na minha opinião (e na de muitos), um dos melhores da banda.

Não havia qualquer explicação: simplesmente queria escutar o Andre Matos cantando, bem no auge de sua carreira. O meu tradicional e enfadonho trajeto "casa - trabalho - trabalho - casa" foi animado por uma trilha sonora muito especial: "Nothing to Say", "Holy Land", "Deep Blue" e "Make Believe". Aliás, não ouvia Angra há aproximadamente 2 anos!

No dia seguinte, ouvi no carro algumas músicas do Shaaman, mais especificamente "Fairy Tayle", "Over Your Head", "Reason" e "Innocence". Foi um momento bastante nostálgico, pois aquelas canções marcaram a minha adolescência e eu simplesmente quis reviver um pouco desta época da minha vida.

No entanto, o dia seguinte chegou.

E logo no início da tarde, resolvi dar uma volta no shopping (como de costume em todos os meus sábados). Porém, antes mesmo de descer do carro, resolvi checar as redes sociais. Rolando o feed do meu Instagram, deparei-me com uma foto cuja legenda dizia algo do tipo: "Sem acreditar... Andre Matos #RIP". Confesso que não tinha entendido. Ou talvez tivesse, mas não quisesse. Rapidamente, comecei a ler os comentários e percebi que uma centena de pessoas estava perguntando se aquilo era mesmo verdade ou uma brincadeira de mal (péssimo) gosto. E após alguns segundos, a foto simplesmente desapareceu. "Foi mesmo uma brincadeira", pensei, pois algo semelhante havia acontecido recentemente com o baterista do RPM, vítima de um falso alarme de morte. Todavia, uma péssima sensação já havia se apoderado de mim e algo me dizia que aquela notícia era mesmo verdadeira, mas que, por questões éticas, havia sido retirada sumariamente. E eu ainda estava dentro do carro, sem coragem de sair dali. Tudo o que queria era ter a certeza absoluta de que aquilo não passava de um mal entendido.

Comecei a pesquisar em todas as páginas da web por alguma notícia, bem como nas redes sociais de músicos e bandas, mas simplesmente não encontrava qualquer informação a respeito. Por um instante, cheguei a cogitar ter sido uma ilusão, um delírio.

Foi quando, após alguns minutos, tive acesso a um link do Facebook que me direcionava ao perfil do Manifesto Bar e lá me deparei com uma nota de pesar, informando o falecimento do músico Andre Matos.

A sensação é horrível. Um verdadeiro banho repentino de água gelada. Não consegui esboçar qualquer reação. Pela primeira vez, entendi a expressão a ficha não caiu". Poderia imaginar com qualquer pessoa, menos com o Andre, mesmo sabendo que pode sim acontecer com qualquer um. E enquanto os minutos se passavam, as notícias iam se replicando e se confirmando por diversas fontes oficiais, quando finalmente entendi o recado: um dos meus maiores ídolos da adolescência havia mesmo partido deste mundo, vítima de um infarto agudo do miocárdio.

Andre Matos foi, indiscutivelmente, um dos maiores nomes do heavy metal mundial. Logicamente, não poderia ser diferente vindo de alguém que integrou e encabeçou bandas como o Viper, Angra e Shaaman, três dos maiores nomes do heavy metal da história da música brasileira, referências para praticamente todas as bandas do gênero que se sucederam ao longo das décadas. Andre Matos, músico de formação, foi um dos poucos artistas brasileiros de grande reconhecimento no exterior, mais precisamente na Europa e no Japão, responsável também por fomentar/estimular a produção de metal no Brasil a partir da década de 90, tendo até mesmo participado de uma seleção para se tornar vocalista do Iron Maiden (maior banda de metal do mundo), perdendo o posto para o cantor Blaze Bayley.

E por sorte, tive o prazer - e a honra - de conhecê-lo pessoalmente. E é sobre isso que quero falar um pouco aqui.

Na minha adolescência, um colega de sala havia me apresentado a música "Carry On". Não fazia ideia de quem a cantava, mas simplesmente adorava o seu refrão, os solos de guitarra e a sua melodia como um todo. Costumava comentar com o meu amigo que aquela canção havia sido criada por "gênios", pois era desenvolvida por um jogo virtuosíssimo de guitarras, uma linha de baixo invejável, uma bateria frenética e um vocalista que atingia notas altíssimas para um homem.

Conheci o Angra, assim como a maioria dos fãs, pelo disco "Angels Cry", e daí então me tornei fã da banda. Aliás, só soube anos depois que ele havia tocado com o meu primo Felipe Machado em uma banda chamada "Viper", o que me fez ter uma maior afinidade pelo seu trabalho.

Em 2009, tomei ciência de que o Andre Matos participaria de um evento na minha cidade entitulado "Oi Blues By Night", juntamente com o músico Vasco Faé, ocasião em que tocariam blues e alguns clássicos do rock. Foi a primeira vez que vi o Andre pessoalmente, e a sua postura no palco me agradava bastante. Ao final do show, decidi encontrá-lo no camarim, e ali desenvolvemos uma conversa agradável por um alguns minutos.

Deste dia em diante, passei a conhecer com profundidade o Angra, o Shaaman e o Viper, e não demorou para que Andre Matos se tornasse um dos meus grandes ídolos do rock.

Ainda em 2009, reencontrei-o no Recife em um concerto de sua carreira solo (turnê do disco "Mentalize"). Novamente nos encontramos após o show e estreitamos um pouco mais os laços.

Já em 2011, Andre retornou a João Pessoa (também com a turnê do Mentalize) e estivemos juntos em uma coletiva realizada pela "RockSette", empresa responsável pela produção do seu show (que, aliás, ajudei na venda de ingressos). Para mim, foi uma grande noite. Lembro-me do Andre me explicando o conceito do seu novo álbum, o enigma da capa e algumas histórias bacanas que o inspirou a compor certas músicas. O show, realizado no Clube Cabo Branco, foi memorável e histórico!

No ano seguinte (2012), soube que o Viper iria se reunir e fazer uma série de shows pelo Brasil. Assim que me informaram que viriam à Natal/RN, decidi encontrá-los.

Foi uma grande festa em família, pois meu primo Felipe Machado (guitarrista do Viper) nos convidou para conhecer toda a banda e assistir ao show no camarim (ele, inclusive, visitou a casa do nosso tio e deu uma palhinha na guitarra). Jantamos com os integrantes do Viper (Hugo Mariutti, Pit Passarel, Felipe Machado e Guilherme Martin) e, em seguida, fomos buscar o Andre no hotel. Fomos juntos na van para o local do evento e batemos um papo divertido no trajeto. Lembro que o Andre me contou que a inspiração para compor a música "Rio" veio após assistir ao filme "Cidade de Deus". Além de músico, cinéfilo!

A noite foi bastante divertida: não havia um local específico para a entrada dos artistas no evento, então tivemos que passar no meio da multidão, desde a entrada até o camarim. Os fãs se digladiavam para se aproximar da banda e nós passamos espremidos no meio de tanta gente (risos). Vimos todo o show de pertinho, bem de cima do palco! Saímos por volta das cinco e meia da manhã e fomos tomar café, pasmem, em uma pizzaria (sim, estava funcionando).

Por fim, em 2013, o Viper se apresentou no Rock in Rio. Acredito que realizaram um grande sonho de suas vidas.

Neste dia, o primo Nando Machado (irmão do Felipe, produtor do Viper e colega de infância da banda) me convidou para entrar no backstage, onde tive a oportunidade de encontrar algumas bandas como o Sepultura e o Helloween. O Andre estava por ali, caminhando, em seu jeito reservado, e após me avistar - e para a minha surpresa - acenou e me cumprimentou. Voltamos a conversar, desta vez sobre a produção do festival e sobre a performance do Viper, e ele me parecia bastante feliz. Após um diálogo que durou alguns minutos, despedi-me do Andre.


Desta vez, pela última vez.


No dia 08 de junho de 2019, Andre Coelho Matos nos deixou precocemente (47 anos), confirmando a célebre frase de que "os bons morrem jovens". Músicos do Angra, Shaaman, Viper e de outras bandas nacionais e internacionais lamentaram profundamente o incidente. O guitarrista Kiko Loureiro gravou um vídeo comentando o episódio https://www.youtube.com/watch?v=p4_Cq74U_qQ

Já a banda Angra cancelou o show que faria no dia, mas decidiu subir aos palcos para fazer uma homenagem ao seu primeiro vocalista oficial.

Tendo manifestado em vida o desinteresse por um velório, seu desejo foi atendido. Houve apenas uma cerimônia para amigos e familiares. Seu corpo foi cremado.


Meu ânimo caiu (ou despencou) drasticamente neste final de semana. Por mais que não se trate de um parente ou de um amigo próximo, a música de Andre Matos fez parte de um período importantíssimo da minha vida, aliás, abrindo as portas para que eu pudesse conhecer mais a fundo o heavy metal.

O mundo da música está de luto. E que toda a dor seja suprida pela lembrança de sua genialidade, imortalizada na história do heavy metal.

Adeus, Andre! Obrigado por fazer parte da minha vida! Seus fãs certamente se ocuparão em manter o seu legado vivo para toda a eternidade.

O Blog Questão Musical manifesta total solidariedade aos músicos, fãs e familiares do vocalista.

Daniel Azevedo de Oliveira Maia.




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