40 ANOS DE LONDON CALLING DO THE CLASH: O DISCO QUE CAPILARIZOU AS INFLUÊNCIAS DO ROCK MODERNO.
- Dostoievsky Andrade
- 12 de jul. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de jul. de 2019
Na década de setenta, o movimento punk assume o apogeu da cultura, principalmente na vertente musical como forma de orientar suas características de contestar o status quo a partir de manifestações anarquistas, niilistas e revolucionárias. Nesta perspectiva, era intencional expor tais manifestações de forma tosca, simplista, ecoar ruidosamente as mensagens sobre as mazelas trazidas pela modernidade e o fim do idealismo com letras que abordassem as circunstâncias desta conjuntura, desemprego, o impacto da guerra fria e do capitalismo de massa, violência, drogas e dramas existenciais.
Com estampa que demonstrasse a antítese dos padrões convencionais, o movimento punk se apropria de uma ideologia afrontosa com atitudes auto-destrutivas como uma forma de materializar a essência do movimento. Na música, essa expressão ganha uma força elementar com a sonoridade flertando ao máximo com o barulho, a distorção, atitude punk regado a muita droga e protesto.

A banda britânica The Clash surge no âmago deste movimento e explora a cerne de suas características no mesmo padrão genuinamente punk, seguindo o modelo previsível dos quatro acordes com máximo de guitarra distorcida, bateria com batida esquizofrênica e as letras ácidas. Mas aí surge em 1979, a obra “London Calling” da mesma banda que os coloca em um nível soberano, divisora de águas para o rock, convergindo o punk em uma nova ótica.
Considerado como um dos melhores discos de rock de todos os tempos, é desmensurada a influencia desta obra para a gerações musicais que viriam depois.
O movimento punk apesar de sua oportuna evolução e por ter cravado no final dos anos 70 sua expressiva seiva de protesto e de confronto com a crítica social, seu radicalismo e sua postura auto-destrutiva flertava sempre com o radical e uma adesão de nicho e de gueto. Não tinha apelo de massa a ponto de modular a cultura e principalmente de se montar como um canal de voz para expressar as demandas do protesto.
Com o disco "London Calling" do The Clash tudo mudou. Lançado em 1980 logo se torna um dos discos mais procurados nos Estados Unidos com mais de dois milhões de cópias vendidas e muito bem recepcionado no Reino Unido alcançando 9ª posição do Top Ten e o 27º lugar na Billboard. O sucesso foi tão estrondoso que os guitarristas e vocalistas Joe Strummer e Mick Jones aparecem na capa da Rolling Stones em abril de 1980 com o título da matéria: Punk para consumo de massa.

O sucesso de "London Calling" veio da necessidade de Joe e Mick imprimir uma forma de colocar o punk em uma abrangência além das arestas dos becos sujos de Londres onde o movimento assumia seu furor. Os caras também captaram a proposta do produtor Guy Stevens de salpicar humor nas letras e deixar mais leve o peso gravitacional do punk. Nesta busca pela acessibilidade, The Clash percebe a necessidade de incluir novos elementos à textura simplista do punk e integrar na receita ingredientes como o rockabilly, o Rithm and Blues, o Honky-Tonk, o funk, o New Wave, Ska e o reggae além de inserir mais leveza cortejando o tempo inteiro com o pop.
A fórmula deu certo demais. The Clash com "London Calling" apresenta a agressividade punk de forma tão palatável que facilmente se permite pela identificação e a necessidade de que o movimento poderia assumir um caldeirão cultural sem se prestar a incumbir-se de radicalismo e os excessos do punk raiz.
Ao apresentar a estética new punk, The Clash cria um novo estilo e torna-se fonte de influencia, por trazer em sua proposta este mosaico de registros musicais ostentando ao mesmo tempo uma postura revolucionária e da contracultura punk. O que seria do Titãs, Red Hot Chilli Peppers, Barão Vermelho, Living Colour, Paralamas do Sucesso, Offspring e tantas outras “em a influencia do disco "London Calling" na musicalidade destas bandas modernas?
O impacto foi grande quando o núcleo duro do punk britânico se deparou com “London Calling”, um disco que apresentava uma tônica totalmente distinta do movimento punk clássico ao trazer outros gêneros como reggae(Guns of Brixton) Rockabilly(Brand New Cadillac); Ska(Wrong); Jazz(Jimmi Jazz) e o pop(Train in Vain, London Calling, Lost in the Supermarket e Spanish Bombs). Muitos atribuíram ao The Clash e suas mudanças, a uma infidelidade ao movimento e “vendidos” ao mainstream.
Todo arcabouço experimental adotado pela banda foi outorgada pelo produtor e empresário deles na época, também para esquivar do “mais do mesmo” do punk, do rock clássico e do rock progressivo que estavam no ápice neste período. Além do lance mercadológico, o certo é que London Calling foi um feito inaugural em que até a crítica, sempre avessa ao punk, teve que se render a genialidade do álbum tanto pela engenhosa fusão de estilos, como também pelas letras, citações literárias e execução perfeita dos caras do Clash.
Muitos roqueiros foram introduzidos no universo do rock batizados com a escuta deste disco. Está tudo ali para se incorporar em todas as basilares influencias do rock: a velocidade do punk, o jazz, o reggae, o hard rock, o ritmo dançante e as melodias pegajosas do pop com letras maduras de ácida crítica social. Os arranjos genias remetiam a uma sonoridade muito original com os instrumentos executados em uma tônica marcante com a presença notória de sax e piano em algumas músicas e nos vocais ora furiosos de Joe.

Um destaque a parte do disco é sua capa que revela muito do significado divisor de águas deste disco. A foto de Paul Simonon quebrando seu contrabaixo Precision em um show em Nova York captada pela fotógrafa Pennie Smith é muito representativa da quebra das barreiras estilísticas do disco e também da fúria punk. O design gráfico desenhado por Ray Lowry também remete a uma reverenciada simbologia ao disco de estreia de Elvis Presley de 1956 o Rei do Rock e sua magna influencia.
London Calling do The Clash completa 40 anos como um dos discos mais importante da história do rock se reinventando e descontruindo estilos clássicos para introduzir uma aliança emblemática do rock como centro medular de influencias que o torna a matriz de um movimento que pulsou o rock moderno.
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