25 ANOS DO ÁLBUM DEFINITELY MAYBE DO OASIS: RESGATE DESCONTRAÍDO DO ROCK AND ROLL RAIZ
- Dostoievsky Andrade
- 1 de set. de 2019
- 4 min de leitura
Em 1991, Manchester (Inglaterra), Paul Bonehead, Paul McGuigan e Tony McCarrol montaram uma banda com o nome “The Rain”. Teve problemas com o vocalista e Bonehead convidou um “porra lôka” chamado Lian Gallagher para cantar. Impressionou a banda ao fazer o teste com sua capacidade e extensão vocal mesmo sem nenhuma experiência musical. Faltava à banda um bom letrista para composição de canções e Lian convidou o irmão que era rodie de bandas amadoras e escrevia versos e as musicavam no violão. Com a entrada de Noel a banda muda de nome para Oasis, se profissionaliza e os irmãos Gallagher vê a oportunidade de ter um norte orçamentário na crise pesada que viviam as cidades industriais da Inglaterra neste período pós-tacheterismo.
Em pleno 1994 havia uma expectativa muito grande quando ao disco de estreia da banda que estava iniciando uma turnê amadora pela Grã Bretanha e chamando a atenção do público pela sonoridade que amplificava acordes e distorções e usava da simplicidade e ausência de sutileza para compor uma estrutura musical quase paradigmática para a época. Importante destacar que a Inglaterra passava pela febre do eletrônico e o avanço da indie music e da influência do pós punk com sua seiva depressiva e sua proposta de questionar os dramas existências.
Do outro lado do oceano, nos Estados Unidos, a temperatura seguia mansa e fleuma com o grunge abusando de temas inquietantes como a alienação social, o isolamento emocional a angustia e opressão da vida adulta em um sonoridade que não obstante seu peso musical, flertava o tempo todo com o desalento e a melancolia.
Quando aparece o Oasis resgatando um timbre de garagem com o arcabouço simplista de acordes básicos de banda de rock clássico com sonoridade balançante e letras que não tinham qualquer compromisso em levantar dilemas existenciais, o público imediatamente se identificou com aquela proposta tão ordinária e ao mesmo tempo tão genial. Era se divertir em proferir letras que resgatasse a necessidade de deleitar como “Hoje a noite serei uma estrela do rock and roll” ou “pra que trabalhar se todo esse investimento vai nos colocar na vala da indiferença?”
E ai surge um dos mais celebrados discos de estreia de uma banda de rock que consegue se tornar uma unanimidade, mesmo quando os caras ainda estavam consolidando seu som para um nível mais abalizado. Foi com o disco “Definitely Maybe” que o Oasis inaugura a divisão de águas da nova cena musical que despontava da terra da rainha para o mundo.

Com as performances do Oasis em shows apresentando seu trabalho, algumas canções como “Supersonic” e “Live Forever”, que funcionava como dinamites explodindo nos shows, o lançamento do disco no final de agosto de 1994 já o dispôs no top da parada britânica. Era o máximo curtir aquele som no quarto e depois se fartar com muito “Cigarettes and Alcohol” nas arenas com som de suas guitarras distorcidas e amplificadas, o que representava a necessidade da juventude em um mundo em crise, de gozar sob o alicerce do prazer de festejar a vida.
Em 1993 o produtor Alan McGee empresário do selo independente Creation Records, assistiu a um dos shows do Oasis e se impressionou com a energia de palco, sonoridade e resposta do público com as músicas da banda. Mesmo passando por alguns produtores musicas mais “plásticos”, Noel não se identificou com a “limpeza” do som que descaracterizou e neutralizou a identidade da banda. Noel assume a produção com Mark Coyle e reconfigura as gravações com a banda tocando junto e sobrepondo guitarras e a contribuição decisiva de uma mixagem produzida pelo engenheiro de som Owen Morris, o disco Definitely Maybe é lançado com grande apreensão: o processo criativo foi muito estressante.

Logo Supersonic alcança o top ten das paradas britânicas e demais clássicos do disco também ganham destaque. Na mesma época a Creation Records estava passando por dificuldade financeiras e o potencial de vendas do disco poderiam ser uma luz para resolver os problemas da gravadora. A Creation não pensou duas vezes em divulgar o disco em uma estratégia de marketing ate então inédita de anunciar em várias frentes de publicidade como revistas esportivas, outdoors, e em partidas de futebol. O plano deu certo demais e nas primeiras semanas 85 mil cópias foram vendidas subindo no topo da concorrida parada britânica e estabelecendo um recorde: O disco de estreia de uma banda de rock que vendeu mais rápido na história.
Ouvir “Definitely... é sensacional. Canções com refrão de apelos pegajosos, melódicos e bastante cantáveis com camadas de distorção de guitarra robustecidas pela mixagem e reforçadas pela pegada rock and roll. Perpassa pelo peso do heavy metal e do punk inglês e flerta também com o pop e a amarras beatloneanas já são inauguradas aqui. As letras simplistas vão de desilusões amorosas, noitadas juvenis até ao cenário social de desesperança dos jovens com a política.
É unanime a importância de “Definitely Maybe” do Oasis para aquela época. Um resgate inusitado ao que o rock representou no passado sem tantas afetações e com uma sonoridade amplificada para retomar o âmago e a essência do estrato intrínseco do rock britânico em sua insular e cosmopolita forma de fazer música elevada ao estado de arte.
E é com este disco que o marco inaugural da segunda invasão britânica ganha corpo e mais uma vez desenha o mapa da Inglaterra como um celeiro singular de uma identidade musical sublinhada pelo reconhecimento quase mítico do publico. Define, portanto, a relevância do rock britânico como uma das lendas musicais mais decisivas da história da música ocidental com seu pluralismo, experimentações e fusões sincréticas de um povo que abraçou a cultura universal como inspiração para fazer arte e temperar com o “British Way Of Life”
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