SHOW DO IRON MAIDEN NO RiR 2019: MELHOR SHOW DE HEAVY METAL DA MINHA VIDA!
- Wender Imperiano
- 15 de out. de 2019
- 7 min de leitura
Como dito em meu texto anterior – onde faço um relato, de forma genérica, da minha experiência no Rock in Rio (RiR), clique aqui para ler -, eu vi o Iron Maiden detonando no palco Mundo no último dia 04 de Outubro de 2019. Já havia tido a oportunidade de ver a banda outras três vezes, duas em Recife (PE) e outra em Fortaleza (CE). Seria a minha primeira vez que iria vê-los fora do Nordeste, ainda mais em um evento tão especial para os caras, o Rock in Rio.
Eu pressentia que seria um show épico, daqueles que jamais sairia da cabeça, por diversos motivos: 1. O carinho e a identificação que o Iron Maiden tem pelo RiR, o que desaguaria em uma total entrega a fim de atingir a excelência na performance; 2. A atmosfera produzida por mais de 100 mil fanáticos pela banda; 3. A chance única de ver a história musical acontecendo diante dos seus olhos.
Em 2009, quando vi o Iron Maiden tocando pela primeira vez, emocionei-me por duas vezes ao longo da apresentação. Nas duas apresentações seguintes, sem emoções. Sentia-me mais “calejado” e maduro para conter as emoções e assistir ao espetáculo com mais frieza. Assistir com frieza não significa falta de atenção ou monotonia, longe disso, mas tão-somente ter os olhos mais atentos aos detalhes, e afastar a “cegueira” que o fanatismo pode causar, ficando acorrentado aos elogios em excesso e sem capacidade de tecer críticas, quando elas precisam ser feitas.
Mas, por que eu disse isso? Apenas para dizer que, embora “calejado” e achando estar isento de emoções no que se refere ao show do Iron Maiden, tenho que confessar que o espetáculo do RiR me “arremessou” na parede, pôs minhas emoções à flor da pele e vibrei como se fosse pela primeira vez. Senti-me como se estivesse em 2009, por duas horas eu voltei a ter 21 anos de idade e, durante este mesmo tempo, eu esqueci das dores físicas que castigavam meu corpo após os shows do Torture Squad, Sepultura, Anthrax, Helloween e Slayer.
A partir de agora, como prometido no texto anterior, farei a minha primeira resenha dos shows que presenciei no RiR 2019, e para começar, teremos o Iron Maiden. Farei de tudo para deixar a paixão de lado, e vamos tentar escrever da forma mais fria possível.
Segundo o jornal O Estadão (clique aqui), o show do Iron Maiden no RiR 2019 foi o melhor de toda a história do festival. Tenho sérias dúvidas quanto a isso, mas opino que talvez seja o melhor show da banda em toda a história do evento. Dizer que foi o melhor de todos os tempos do festival é simplesmente ignorar o memorável e épico show do Queen, em 1985.
Tudo começa com a tradição. Primeiro, o sistema de som do evento toca trecho da música instrumental Transylvania, enquanto, no telão, são exibidas animações do jogo “Legacy of the Beast”. Em seguida, o público entra em frenesi quando começa Doctor Doctor, do UFO, pois todos já sabiam que, ao final, a banda iria subir ao palco para dar o melhor de si.
Celulares ao alto. Câmeras a postos. Estamos a minutos do show do Iron Maiden. Encerra-se a música do UFO, entra o discurso de Wiston Churchill. O Público vai ao delírio. Restam poucos segundos para os mestres do Heavy Metal subirem ao palco. Entra a gravação do Riff inicial de Aces High. A loucura toma conta da Cidade do Rock. Explosão! A banda sobe ao palco, o público não para de pular. O espetáculo começou de fato.
Durante a execução de Aces High pude notar algumas falhas. A primeira, no sistema de som; A segunda, na voz de Bruce. Quando ouvi a voz dele, eu pensei: “Nossa, acho que ele não vai aguentar o show inteiro”. Para a sorte de todos, foi só um pequeno deslize. Aces High é uma música que é preciso atingir notas altíssimas, o que podemos presumir que a voz do baixinho ainda estava fria. Da segunda música em diante, os problemas mencionados foram sanados, e o espetáculo seguiu adiante.
Com direito a um baita avião que ficava pairando sobre a cabeça dos músicos, Aces High abriu bem o show. Ao final da primeira música, o palco ficou escuro e a estrutura do avião gigante havia desaparecido. Começou uns sons de tiros e eu querendo entender que música seria executada. Eis que entra uma virada de bateria inconfundível, era simplesmente Where Eagles Dare! Eu sempre sonhei em presenciar a sua execução ao vivo. Sonho realizado, e superior a qualquer expectativa, pois eles foram certeiros, além do mais a voz de Bruce já estava encaixada. Tudo rolou muito bem!
Sem tempo para deixar a poeira baixa, entra 2 Minutes to Midnight, mostrando que a banda não veio para brincadeira e nem enrolação. Iniciou o setlist de forma pesada, do jeito que todo fã de Heavy Metal gosta.
Depois de três petardos, a banda faz um pequena pausa, onde Bruce Dickinson começa a fazer um mini discurso, dando uma introdução à letra, dizendo seu significado e o quão ela é importante para a banda. Era The Clansman, que estava de fora do repertório há anos – recomendo a leitura do meu texto anterior a fim de ficar por dentro de um acontecimento bem peculiar que rolou durante o referido discurso de Bruce.
The Clansman, ao meu ver, deu início a uma sequência de músicas que considero épicas, seja pelo seu enredo que se desenvolve, seja pelo seu impacto sobre os fãs. Seguiram The Trooper - canção que dispensa comentários, que chamou a atenção pelo fato de que o boneco gigante do Eddie entrou em cena, vestindo a farda do exército britânico, com direito a duelo de espada com Bruce Dickinson, em um momento divertido e até mesmo engraçado - e Revelations, ambas do disco Piece of Mind.
As luzes do palco tornam a se apagar, provocando um clima de mistério no ar. Fiquei a me perguntar “Que músicas eles deverão tocar?”, quando Steve Harris faz uma introdução no baixo, que logo associei a uma música que eu amo, mas pouco é executada ao vivo pela banda, era For the Greater Good of God, do disco A Matter Life and Death. A referida canção possui um arranjo que caberia até mesmo uma orquestração, sem sofrer nenhum tipo de perda de caracterização e construção. Canção de progressão genial, passa uma belíssima mensagem para o ouvinte, e cai muito bem ao vivo a fim de promover um momento de contemplação na plateia. Caiu como uma luva!
A fim de quebrar um pouco o clima de contemplação, surge a clássica The Wicker Man, para dar mais uma agitada na plateia, fazendo-a cantar o refrão a plenos pulmões. As luzes voltam a se apagar, um canto gregoriano começa a entoar por toda a cidade do Rock. Neste momento, fico de olhos arregalados, pois já ouvir isso na minha vida, foi no disco/DVD ao vivo no RiR 2001, quando o Iron Maiden tocou Sign of the Cross, música do The X Factor. Sim, ela era mesma! Somando-se à genialidade musical, tivemos uma atuação épica de Bruce Dickinson – como ele estava teatral neste dia! Ao final da referida canção, eis que outra, que estava há anos fora do repertório, começa a ser executada: Flight of Icarus! Aí eu fiquei arrepiado até as partículas das profundezas da minha alma, pois tenho grande estima por ela. Com direito a um Icarus gigante pairando sobre os músicos, temos um Bruce Dickinson afinado e afiadíssimo portando um lança-chamas! Eu não consigo nem cantarolar algo enquanto tento acender um isqueiro, imaginem manusear um baita de um lança-chamas! Foi um momento apoteótico, a plateia estava em êxtase!
Ao final de Flight of Icarus, o boneco gigante se recolhe de forma magistral, parecendo ter vida própria, fechando suas asas e despencando como se tivesse seu artefato voador destruído. Aproveitando o êxtase da plateia, o Iron Maiden emenda três clássicos absolutos: Fear of the Dark, The Number of the Beast e Iron Maiden. Esta última música com direito a aparição de um Eddie dos infernos surgindo por detrás da bateria, enquanto gigantes labaredas eram lançadas ao alto. O fogo era tão forte que eu sentia seu calor no meu rosto. Detalhe: Eu estava a uma distância considerável do palco!
Um instantezinho para retomar o fôlego. A banda deixou o palco para, em alguns minutos, tocar o Bis. E que Bis! Começaram com The Evil That Men Do, a épica Hallowed Be Thy Name e fecharam o show com a boa e velha Run to the Hills.
Destaco a belíssima encenação de Bruce Dickinson para a música Hallowed Be Thy Name, pois transmitiu de forma majestosa a essência da história a ser transmitida. Para quem não sabe, trata-se de uma descrição dos últimos momentos de um prisioneiro condenado à forca.
Considerando a enorme sobreposição dos acertos sobre os míseros erros, podemos assegurar que o show do Iron Maiden foi épico, apoteótico, teatral e tocante. Foi agressivo, contemplativo, vibrante e emocionante na medida certa, fazendo o fã experimentar tudo isso em poucas horas de espetáculo. Saí com a sensação que não só eu, mas todos (pelo menos a maioria esmagadora, pois tem gente que não consegue apreciar na mesma intensa que a gente) saíram com uma sensação ímpar, com a vida marcada por termos presenciado algo histórico dentro do maior evento musical do Brasil.
Como dito anteriormente, este foi o quarto show do Iron Maiden que vi, e asseguro, sem medo de errar, que foi o melhor de todos, pois eles conseguiram fazer um “passeio” por toda a sua história musical em altíssimo nível de entrosamento e perfeição técnica. Foi um show perfeito para “massagear” os ouvidos e os olhos.
Se você é fã do Iron Maiden e nunca os viu ao vivo – e tem condição para isso -, não perca tempo e providencie essa vivência única. Se você não é fã, só lamento, pois não sabe o que está perdendo. UP THE IRONS!
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