POLITICAMENTE CORRETO: Uma PATRULHA MALDITA EM JOÃO PESSOA-PB. [+18]
- Wender Imperiano
- 30 de abr. de 2019
- 9 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2019
Você sabe o que é o politicamente correto? Não? Bom... mas pelo menos ouviu falar? De toda forma, diremos aqui e agora.
Segundo o site Mises Brasil (link), “O adjetivo 'politicamente correto' é usado para descrever linguagens ou ações que devem ser evitadas, por serem vistas como 'excludentes' ou 'ofensivas'”. Ou seja, a todo instante você deve se policiar para evitar usar palavras que soem ofensivas seja para que determinada pessoa ou grupo. É, por exemplo, você evitar falar a palavra “gordo”, para evitar ser ofensivo com pessoas acima do peso (Não sei se você percebeu, mas acabei de usar um pouco do politicamente correto. Esta merda nos contaminou sem nem notarmos!).
Só aproveitando o gancho: Perdi as contas de reencontrar pessoas depois de anos e anos sem termos contato pessoalmente, e estas dizerem “Nossa, como você está forte!”, e eu logo retruco “Amigo (a), eu sei que estou gordo, e não há problema nisso. Relaxe aí!”. É um saco ficar se policiando porque simplesmente você não sabe se o interlocutor irá se ofender, por mais que não tenhamos um pingo de vontade de escarnecer, humilhar ou fazer chacota gratuita.
Diante disso, os adeptos do politicamente correto passaram a atuar, de forma consciente ou não, como verdadeiros patrulheiros. E com a internet de fácil acesso, qualquer tweet, post em Facebook, vídeo no YouTube, frases fora de contexto e etc podem ser alvo de severas críticas e até mesmo perseguições às pessoas envolvidas.
Ressaltamos, neste momento, que ser contra o politicamente correto não quer dizer que sejamos verdadeiros ogros, brutos e insensíveis com as dores alheias. Mas, tão somente é você ter a consciência de que os significados das palavras são definidos e consagrados há séculos, talvez milênios, e que não devemos ter medo de evitar certas colocações por não sabermos se iremos topar com pessoas melindrosas em nossos caminhos. É possível sermos educados e não termos medo de usar as palavras no seu sentido literal, por mais estranho que pareça soar aos ouvidos dos mais sensíveis.
É importante destacarmos que os patrulheiros do politicamente correto costumam agir da seguinte forma: Quando determinado ato for praticado dentro do “time” que se defende, é permitido; Quando é praticado pelo “time” contrário, é “mata esse safado”, “boicote”, “fascista”, “misógino”, “não passarão” e etc, etc e etc... Ouse discordar da pauta da patrulha e serás premiado (a) com estes adjetivos e predicados.
Para se ter uma ideia, certo dia, em conversa informal com duas feministas, ambas enalteciam os grandes feitos do movimento, ao longo da história. Eu concordava com tudo, e ainda dava apoio. Reconhecíamos a importância do feminismo na história. Porém, pedi a palavra (afinal, não queria praticar o famigerado “manterrupting”, né?) e disse: “Só acho uma coisa: As feministas deveriam entender que deveriam melhorar na forma de protestarem e passarem a adotar um método mais eficaz para conquistar novos direitos, do que simplesmente vandalizar alguns monumentos públicos e mostrar os peitos em público”. Dou um doce para quem adivinhar o que aconteceu depois da minha fala (mentira, dou não). Bingo para quem pensou que fui chamado de machista! Adiantou eu concordar com 99,9% do discurso e criticar 0,01% do movimento? De jeito nenhum! O rótulo do politicamente correto já tinha sido colocado em mim: Machista escroto!
O ilustre leitor deve estar se perguntando: Mas, para quê toda esta introdução? Agora entenderás o enredo do que aconteceu na noite do dia 27.04.2019, na Cidade de João Pessoa – PB.
No referido dia, aconteceu um festival musical denominado “Grito João Pessoa”, onde diversas bandas do cenário local e nacional se apresentaram em praça pública, mais precisamente na Praça Antenor Navarro, Centro Histórico de João Pessoa-PB.
Nesse Festival, algo chamou a atenção: A apresentação da banda Maldita (RJ).
A polêmica gerada se deu quando o vocalista da referida banda, Erich Eichner, antes de tocar a música “Anatomia” (vide abaixo) resolve dedicar a todas as mulheres. Pra quê? Putz... começou o frenesi! Embora, segundo os músicos, é praxe eles sempre dedicarem a canção às mulheres em TODOS OS SHOWS, mas dessa vez pegou mal, muito mal! A patrulha não perdoou, mas, é claro, deixaram para destilar sua indignação via internet, né? Afinal, a geração “floquinho de neve” não sabe dar a cara a tapa na hora em que a coisa acontece.
A Banda Maldita, em seu instagram (link), publicou a seguinte nota de esclarecimento, publicada por volta das 14 horas, do dia 29.04.2019 (preste atenção na hora e na data!):
“A todos de João Pessoa que estavam presentes no festival Grito João Pessoa 2019 - em decorrência de posts enviados a organização do festival, gostariamos de esclarecer certos mal entendidos que podem ter ocorrido durante a apresentação da música Anatomia, durante o show nesse último sábado, dia 27. Desde já, pedimos imensas desculpas por aqueles que de algum modo podem ter se sentido ofendidos.
Anatomia - que foi mal interpretada por alguns - é uma composição que escrevi em 2003 e que fala sobre eu “matando” ou “aniquilando” a minha alma feminina, ou “Anima” dentro da corrente Jungiana. Ela também foi escrita diante de minha primeira separação e novamente é uma metáfora sobre matar um “amor” ou a consciência de que até as coisas mais belas morrem. [Grifo Nosso. Destacamos o real sentido da canção, segundo a banda].
Dito isso, gostaria de dizer também que, o público da banda Maldita, é predominantemente feminino (justamente por causa dessa música) que é a nossa balada de amor e, é por isso que temos como hábito, a mais de quinze anos dedicá-la a todas as mulheres presentes quando estamos performando.
Deixo claro aqui que a Maldita não apoia e nunca apoiou qualquer tipo de repressão, sejam elas políticas, racistas, misóginas, homofóbicas ou qualquer forma de repressão.
Afinal de contas, não votei no Bolsonaro e faço questão de gritar isso em meus shows #EleNão !
Assim como também não incito qualquer tipo de violência nos mesmos.
Mais uma vez pedimos desculpas a toda organização do festival Grito Rock, assim como aqueles que de algum modo possam ter se sentido ofendidos.
Viva o Rock, os atos poéticos e a liberdade de expressão!
Atenciosamente,
Lúcifer @festivalgritojp “
Para quem não percebeu, na nota de esclarecimento, a banda Maldita tomou o cuidado de marcar o perfil oficial do evento, para que os organizadores tomassem ciência do pronunciamento oficial da banda.
Mas o pessoal da organização deu de ombros, não considerou o pronunciamento claro e sincero da banda e emitiu a seguinte nota em seu instagram, por volta das 16 horas do dia 29.04.2019 (ou seja, duas horas depois do pronunciamento da banda, o que poderia muito bem influenciar no teor da nota a ser publicada), em um ato de, supostamente, tentativa de agrado à patrulha, dizendo:
“O Festival Grito João Pessoa vem por meio desta nota se posicionar acerca dos fatos envolvendo o show da banda Maldita, no palco Varadouro, ocorrido no último sábado (27). Recebemos com surpresa e tristeza essa situação e, primeiramente, pedimos desculpas a todas as mulheres que se sentiram ofendidas com as atitudes do vocalista, é justamente contra esse tipo de conduta que lutamos.
A banda publicou uma Nota de Esclarecimento em seu Instagram, mas entendemos que foi um ato de violência e misoginia, ainda mais no atual contexto social e político. Concordamos que esse tipo de posicionamento não cabe mais neste Festival e em nenhum espaço; esperamos que o grupo repense suas atitudes, assim como iremos nos propor a aumentar ainda mais os critérios para evitar essas violências.
É importante ressaltar que o Festival Grito é completamente colaborativo e sua construção é formada pelas casas que recebem as atividades e todas as pessoas que compareceram às reuniões abertas e se inscreveram nas chamadas públicas, surgindo a partir disso um coletivo horizontal e diversificado que conta com uma grande representatividade, inclusive de mulheres em todas as etapas do evento, desde sua Coordenação Geral, passando pela Curadoria e em todas as frentes dessa plataforma independente.
Durante o processo de curadoria, nos baseamos em diversos critérios artísticos, técnicos, mas também políticos e sociais, pois, como é de conhecimento público, temos uma posição clara em relação a qualquer tipo de preconceito e violência contra mulheres e todas as outras minorias, tendo inclusive desclassificado artistas com conteúdos desse tipo. Deixamos claro que, tanto na inscrição quanto após a seleção, os artistas são informados que não aceitamos conteúdos e atitudes intolerantes.
Nos responsabilizamos quanto aos pontos que podem ser revistos e melhorados no processo de seleção das bandas; as mulheres que compõem a produção estão sendo ouvidas e acolhidas para que haja crescimento em conjunto com este episódio.
Informamos ainda que não serão atos isolados que tirarão o brilho desse projeto colaborativo que há doze anos fortalece o cenário cultural local. O resultado geral foi incrível, tivemos a honra de ver e ouvir muitas mulheres passando mensagens de repúdio à cultura machista, lgbtfóbica, gordofóbica, contra o que lutamos há tantos anos na cidade de João Pessoa.”
Entendam, a luta pelo respeito às diferenças são válidas e devem sempre existir enquanto tiver gente idiota para destilar o ódio de forma gratuita, unicamente para se sentir vitorioso sobre uma vítima supostamente mais frágil.
Porém, vamos ponderar (ponderar não é relativizar. O primeiro é você analisar determinado caso segundo sua particularidade, o segundo costuma estar ligado ao fato de haver o autopoliciamento para que não haja uma afronta a certos paradigmas impostos por determinados grupos sociais) o seguinte:
1. A banda destacou que a sua canção, escrita em 2003, possui um sentido metafórico. Logo, o ouvinte não deve levar em consideração a literalidade do seu conteúdo; (Isso me lembra algo como um religioso fervoroso. Usa um texto bíblico no sentido metafórico ou literal para atender aos seus interesses, sejam eles sublimes ou escusos; Lembra também um defensor de determinado político de estimação, quando este faz uma cagada, começando o contorcionismo para dizer que não passou de uma metáfora, e desce o cacete se o mesmo acontecer com o adversário)
2. A banda Maldita deixou claro a sua luta pela não violência contra as mulheres e demais grupos considerados excluídos pela sociedade. Inclusive, a hashtag “ELE NÃO” é defendida pelos músicos;
3. É praxe da banda, desde 2003, época de lançamento da música “Anatomia”, sempre dedicar às mulheres antes da sua execução ao vivo. Tanto é que, ao tocarem em João Pessoa-PB, por INÚMERAS VEZES, este fato aconteceu e ninguém questionou absolutamente nada;
4. Que muitas mulheres, inclusive as que estavam presentes no evento, adoram a canção, pois simplesmente entendiam o sentido metafórico da mesma.
Se você acha bom ou ruim, pouco importa, a questão é: A arte, por mais subversiva que seja, deve ser policiada?
É notório que o público, sabendo da performance de determinada banda, seja ela polêmica ou não, seja ela politicamente correta ou não, tem o livre arbítrio para ir ou não ao show. Se algo será exibido e você sabe que o conteúdo irá te ofender, por que ir, ora bolas?
Garanto que fazer textão nas redes sociais da banda não mudará em absolutamente nada, pois eles irão continuar tocando suas canções do mesmo jeito!
Imperioso destacarmos outro fato ocorrido neste show: O vocalista anuncia fazer nudez explícita [vídeo abaixo, o que justifica o +18 desta postagem], e sabe o que o público fez (inclusive as mulheres que se sentiram ofendidas com a execução da música “Anatomia”)? Pediu para que ele o fizesse! Neste momento, não houve politicamente correto, hein?
Mas, segundo relatos da plateia, a mulherada ofendida com uma canção metafórica, e que pediu a nudez do vocalista, começou a fazer comentários jocosos como: “Nossa, que pau pequeno!”, “Vish, como ele está peludo”, e etc. Pergunto: O vocalista se ofendeu? Porra nenhuma!
Ora, ora, ora, em um estalar de dedos, a patrulha deixou de ser conservadora para se tornarem críticos-libertinosos no mesmo show! Lembram de quando falei que, quando a manifestação é a favor do “time” que se joga, há aplausos, mas do contrário, há repulsa mortal? Eis um exemplo prático!!!
A patrulha do politicamente correto é esquizofrênica, troca de “roupa” quando lhe convém. Para eles, pouco importa o que você diga, o que importa é o lado que você defende!
Enquanto a patrulha estiver em alerta, veremos episódios como este acontecendo dentro do Rock n’Roll, que desde sempre foi subversivo e afrontou à moral e os bons costumes de uma sociedade conservadora.
Imagine essa turminha vivendo no auge do Jim Morrison e o The Doors...que saco seria, hein?
A crítica deixada aqui é, dentre tantas outras já apresentadas, pela coerência no discurso.
Quem você realmente é?
És uma pessoa conservadora? Então, seja feliz do jeito que te agrada, sem medo de agradar patrulha alguma;
És liberal e “mente aberta”, adepto da liberdades individuais de forma ampla (sexo, drogas e rock n’ roll elevada à potência máxima)? Então, seja feliz e fiel com a personalidade construída por si mesmo (a)!
Agora, querer misturar duas coisas que se assemelham a água e óleo juntos, em um recipiente, é que “quebra na emenda”.
Seja você mesmo (a)! Seja autêntico (a)! Não tenhas medo de ofender outrem, mesmo sabendo que seu coração não possui este desejo!
Jogue na latrina o politicamente correto que enraizou em nossas mentes, de forma silenciosa, ao ponto de praticarmos, sem nem mesmo notá-lo.
Se um dia o Rock morrer, pode ter certeza, a culpa foi da patrulha, que castrou os ovos da essência do estilo musical.
Perfeito sua análise .
Só li verdades
Que texto!! Parabéns Caveira. Concordo com 100%
Sigo o relator.