BREVE CRÍTICA AO FILME “LORDS OF CHAOS”.
- Wender Imperiano
- 29 de jan. de 2020
- 4 min de leitura
Você gosta de Black Metal? Bom, eu não sou nenhum profundo conhecedor. Na verdade, meu conhecimento sobre o sub-gênero do Metal é bem superficial. Em outras palavras, dessa “Missa Negra” eu não conheço nem um terço.
Mas, há um filme que toda pessoa fã e não é fã de Black Metal deveria assistir: o Lords of Chaos (O filme é baseado no livro de mesmo nome, lançado em 1998).
“Caveira, por que devemos ver este filme? Trata-se de uma verdadeira obra prima do cinema do século XXI?”, alguns podem estar se perguntando. E eu respondo: Não, longe disso.
Começa a soar bem paradoxal este início de texto, pois após a minha resposta o leitor deverá estar pensando “como ele indica um filme que não é bom?”. Bom, se você pensou isso, ou algo parecido, entenda que eu não foi o que quis expressar.
Sem mais enrolação. O filme Lords of Chaos aborda a história da banda Mayhem e o surgimento da cena do Black Metal Norueguês. Tá, mas que relevância isso tem?
Trailer oficial do Filme "Lords of Chaos".
Bom, primeiro o aspecto histórico e cultural. Afinal de contas, é o surgimento das primeiras raízes de uma densa floresta que se consolidou após alguns anos. É algo tão notório que o próprio governo da Noruega criou um curso sobre Black Metal para os diplomatas de outros países (saiba mais aqui). Ou seja, é algo culturalmente tão forte que o próprio governo exprime o devido respeito. E veja, não é qualquer governo, nada mais é que aquele país que lidera o Ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com o índice em 0,944 (o IDH é um índice que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo do zero, mais subdesenvolvido; Quanto mais próximo do 1, mais desenvolvido), veja a lista aqui.
Segundo ponto, embora com o maior IDH do planeta, a Noruega é um dos líderes de suicídio em todo o mundo. O motivo? Poucos sabem, mas que é algo muito intrigante. Achismos surgirão aqui e acolá, mas não vejo uma justificativa cabal e definitiva para a temática. E o que isso tem a ver com o filme? Tudo, afinal de contas foi por meio do suicídio que o primeiro vocalista Dead (que ironia, não?) partiu para o outro plano (para saber mais informações sobre suicídio em países desenvolvidos, clique aqui).
Outro ponto curioso, e bem polêmico, é o fato de ter se intensificado a cultura de queimas de igrejas católicas. Membros da banda, principalmente o Varg Vikernes (um dos personagens-chave da história), são relacionados a tais práticas.
Note como o caldo dessa “sopa” está engrossando: 1) Surgimento de uma cena respeitada pelo próprio governo do país com maior IDH do planeta; 2) Contradição entre IDH e alto índice de suicídio; 3) Prática de destruição de igrejas católicas de forma compulsória. Acha pouco? Então, acrescente a este caldo uma trama que envolve conflitos, raiva, dúvida, traições, costumes bizarros, doses de violência, reviravoltas e assassinato (Varg Vikernes, citado acima, assassina Euronymous, guitarrista e fundador do Mayhem). Então, diante de tudo isso, eu digo e repito: Mesmo que você não seja fã de Black Metal, ou não seja um profundo conhecedor, como é o meu caso, Lords of Chaos é uma boa opção para passar 118 minutos do seu dia envolvido na trama.
O filme conta com um elenco jovem, alguns possuem muita proximidade com gente que brilhou nas telonas, como é o caso de Roy Culkin (sim, o irmão dele é aquele mesmo loirinho que arrebentou nos primeiros filmes da franquia “Esqueceram de Mim”) e Jack Kilmer (filho de Val Kilmer). A atuação de todo o elenco é um tanto convincente, ao menos para mim. A fotografia e os cenários são excelentes.
Peço licença para destacar uma coisa, caso você resolva assistir a este filme. Logo no início, é tomado o cuidado de deixar o seguinte aviso ao espectador: “Baseado em verdades, mentiras e no que realmente aconteceu”. Ou seja, há uma sinceridade imensa, pois nos é dito que há fatos distorcidos, acrescentados, revelados ou até mesmo inventados. Isso qualquer um poderia concluir sem maiores dificuldades, não é mesmo? Bom, mas não foi assim para o Varg Vikernes (este cumpriu uma pena por quase 16 anos pelo assassinato do Euronymous, vindo a ter sua liberdade condicional em 2009). Tanto é que o mesmo andou disparando, à época do lançamento do filme, uma série de opiniões um tanto exaltadas. Coisas como:
“o filme todo é inventado. Se eles realmente pesquisaram sobre a história, eles devem ter ignorado tudo o que acharam e optaram por inventar uma história. Tudo nesse filme está errado". (Entendeu agora por que eu afirmo que o aviso do início do filme não foi entendido pelo “Varginho”?)
Disparou contra o ator que o interpretou:
“Então, você assistiu a 'Lords of Chaos', filme que tem um ator judeu e gordo me interpretando. A propósito, sou escandinavo... o ator judeu e gordo diz coisas no filme que eu nunca falei. Recebeu coisas que eu nunca recebi. Fez coisas que eu nunca fiz. Fez coisas por razões que eu nunca tive. Conheceu pessoas que eu nunca ouvi falar" (Há quem diga que existe uma entonação bem nazista nesta fala. O que você acha?)
Segundo matéria publicada no Whiplash (clique aqui), por Igor Miranda, “Varg apontou, então, duas fontes para que as pessoas conheçam a verdadeira história: as playlists em seu canal de YouTube e o documento de seu julgamento em 1993, em acusação por ter assassinado Euronymous (guitarrista do Mayhem)”.
Segundo o IMDb, a nota para este filme é de 6,5. De razoável para bom. Eu seria um pouco mais generoso, daria um 7,5.
Ainda, destaco que o filme chamou atenção dos caras do Metallica, ao ponto de a banda usar cenas do Lords of Chaos para construir o clipe da música ManUnkind (veja abaixo).
Por fim, fica a recomendação para assistir a este filme. Então, procure nas plataformas digitais de sua preferência. Caso contrário, passe direto. Abraços.
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